sábado, 27 de junho de 2009

Juntando histórias


Hoje foi dia de duas apresentações: do exercício dos meninos criado a partir dos encontros com Lima, e do espetáculo “O Circo de um Homem Só”, de Lima, ou do palhaço Amori, ou quem sabe, se um dia ele decidir mudar mesmo, do Tiziu.

Antes de começar a relatar como as coisas se encaminharam, como tenho feito ultimamente, quero falar um pouco sobre como tem sido pra mim fazer os relatos do processo de montagem dos clowns.

Quando Fernando perguntou se eu gostaria de fazer esses relatórios, fiquei em dúvida pelo fato de que escrever não era uma prática recorrente do meu dia-a-dia. E confesso que ainda não encontrei a melhor forma de relatar os acontecimentos do grupo, e que espero logo conseguir, pois assim, como os meninos estão curtindo o processo, eu também estou curtindo acompanhar o andamento das coisas, e acredito que será uma experiência muito enriquecedora para mim enquanto atriz, por poder observar como se dá o processo de criação dos atores e, enquanto relatora, por estar colocando em prática o ato de escrever e pensar sobre teatro. Além disso, agrega-se o fato de eu poder unir o útil ao agradável, pois farei minha monografia de especialização em cima do processo do grupo, e também estou perto de alguém que amo muito.

Portanto, sem mais delongas, quero agradecer ao grupo, e dizer que tem sido importante para mim estar próxima de pessoas que pensam teatro, que vivem teatro, e que amam teatro.

Agora, após esse parênteses, volto aos acontecimentos de hoje.

Os atores chegaram no barracão, fizeram os preparativos para apresentação, arrumaram o espaço e afinaram a luz. Depois, fizeram um alongamento, orientado por Lima, e em seguida um aquecimento, onde aprenderam passos da capoeira.

Daqui a pouco falo sobre o aquecimento, agora quero falar da pessoa Lima. Pense num carinha generoso e querido! Podem dizer que eu estou puxando o saco, mas a verdade, é que gostei muito de acompanhar o encontro de Lima com os Clowns e, porque não, comigo também. Primeiro, porque ele é um bom contador de histórias, que estava sempre procurando passar conhecimento para os meninos, de forma muito tranquila e de sorriso no rosto. Segundo, porque acho que ele teve um procedimento de trabalho muito legal durante essa semana, e olha que ele disse que não sabia sistematizar seus conhecimentos, vai ver que esse foi o barato.

Pronto, voltemos a capoeira. Lima explicou como fazer o gingado da capoeira, a meia-lua, a meia-lua de compasso, e a negativa, que é um esquivo do golpe. Depois de aprenderem no passo a passo, em dupla, eles treinaram o gingado, o golpe e o esquivo, e quem entrou para gingar também, foi o fotógrafo Cuca, que já tinha feito capoeira há algum tempo.

Aquecidos pela capoeira, os meninos formaram uma roda, e cantaram as músicas do exercício “Juntando histórias”, nome denominado por Lima. Marco foi orientando, e fazendo alguns ajustes. Além disso, fizeram um ensaio de todo o exercício.

Ao término, os meninos foram para trás das cortinas, esperando o início da apresentação. O público ia entrando aos poucos, e os atores também. Enquanto estava apenas Marco em cena, entrou uma senhora bêbada, pedindo para assistir o que iria acontecer ali, depois de sentada, ela falou algumas vezes “eu tô com fome”, e depois saiu do barracão.

Marco, que já estava no palco, como o seu personagem-escritor, aproveitou para postar no blog enquanto o público ia entrando, relatou sobre essa senhora, dentre outras sensações que lhe passavam pela cabeça, de forma muito natural e presente.

Depois de todos os atores entrarem, Lima anunciou o inicio do exercício 80.423, ou melhor 80.424, uma brincadeira dos meninos, como o Fernando já comentou no post anterior.


A apresentação do exercício denominado por Lima de “Juntando Histórias” foi boa. A história é mais ou menos o seguinte: quatro atores da trupe assumem seus personagens para contar uma história. Marco é um escritor que está lembrando de algumas entrevistas que fez com uma lavadeira, um pescador e uma dona de casa e, por fim, termina de escrever o seu livro, O Capitão e a Sereia.

Depois da apresentação, foi Lima que entrou em cena, com seu espetáculo, “Circo de um Homem Só”, que divertiu bastante a todos. E quando terminou, deu-se inicio ao debate. E Fernando e Marco situaram um pouco o público sobre o que vem acontecendo no barracão.
Lima também falou um pouco sobre o seu trabalho, e que não havia sistematizado nada específico para ser trabalhado com os atores nessa semana. Porém, à medida que ele ia vendo algumas necessidades, ia propondo exercícios, e que utilizou de alguns princípios que costuma trabalhar, como o clown e Laban.

A Gisele, dos Contemplados, perguntou porque Camille lavou a mesma roupa várias vezes, e disse que isso tinha incomodado. Então, Lima falou que a apresentação foi de um exercício que não estava acabado, e se isso fosse virar um espetáculo, aí eles teriam dedicado mais tempo a alguns detalhes, a todos os símbolos, etc. A partir disso, César falou de como é interessante essa observação, para se entender como tudo é signo no palco, e que tudo tem significado.

Henrique, do Beira/Atores à Deriva, perguntou se era objetivo dessa montagem ser fiel ao texto, falar através da narrativa. Então César falou que a palavra não iria ser suprimida, mas que nesse exercício específico ela vinha como um elemento condutor. Fernando também comentou sobre a utilização da palavra pelo grupo, que ela sempre esteve presente como organizadora, mas que não havia sido tão cuidada como o grupo gostaria que fosse, e que neste processo a relação contação/narração será explorada. Marco falou que seu primeiro contato com o livro foi através da imagem, e que agora eles estão mergulhando no texto.

Surgiu uma pergunta para Lima, sobre a relação do palhaço, teatro, circo, como ele via essas relações. Ele então comentou que, para ele, não importa onde o palhaço se apresenta, de onde vem sua formação, se é do circo, da faculdade, do teatro, mas sim o que ele quer comunicar, o que quer mostrar como resultado estético.

Alex fez duas perguntas: como foi para Lima encontrar com os Clowns, trabalhar com eles essa semana, e qual a relação do trabalho de Lima e do Márcio. Lima falou da boa relação que teve com o grupo, e de como ele chegou com medo de que os meninos tivessem grande expectativa sobre ele. Comentou como era bom trabalhar com gente talentosa (talento para ele é muita ralação, suor), e que aprendeu muito com essa experiência.

Os meninos (atores) falaram da tranquilidade e generosidade com que Lima trabalhou, e o quanto eles estavam receptivos e abertos para esses encontros. César comentou sobre algo que o inquietava. ... E Fernando falou de como os dois diretores trabalharam de maneiras diferentes, o Márcio trabalhou muito a discussão da cena, e Lima já trouxe um trabalho mais corporal.

Mariana Guimarães perguntou para Fernando qual era o papel dele como diretor nesse processo que tem sido tão aberto, que tem tido encontro com outros diretores. Ele respondeu que não existem regras, e que aos poucos vai observando e conectando com o trabalho. Disse também que o grupo sempre trabalhou com o levantamento de material, a única coisa nova para o grupo será a dramaturgia, e que ele tem levado com tranquilidade, embora saiba que é um desafio não perder o fio da meada.

Depois, a partir de uma provocação do Marcos Martins, o debate foi pro rumo da “ilusão”. O grupo explicou que sua relação com a ilusão é trabalhar ela teatralmente, de forma assumida, sem pretensões de iludir a platéia.

Ainda teve uma última pergunta sobre a construção musical da cena. Marco comentou da importância da contribuição dos atores nessa construção e da relação de ter música em cena, mas não é necessário que seja uma canção. E fim.

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