quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ufa!!!!!!

Há duas semanas atrás tivemos uma decepção enorme com a avaliação do guia da Veja São Paulo, que classificou o Capitão como "fraco", deu-nos uma estrela, e escreveu palavras duras e injustas sobre o espetáculo.

Na última quinta, o Luiz Fernando Ramos, crítico da Folha, professor e pesquisador da ECA/USP, figura de reconhecido saber no meio teatral, foi nos assistir. Viu uma apresentação razoável, um tanto fria, e estávamos desde então bem ansiosos e nervosos pelo que nos esperaria. Aliás, antes de qualquer coisa, ansiosos para saber se mereceríamos ou não uma crítica. Depois, saber se aquele sentimento de injustiça que nos acometeu há duas semanas era procedente, ou não. Em tempo, com bastante medo de que não fosse...

Hoje acordei muito cedo, por volta das 5h (para quem me conhece, pasmem!!!!) e entrei no site da Folha para saber se tinha saído algo. Eis que me deparei com essa crítica que postei abaixo!!!! Melhor impossível! Muito elogiosa, reconhecendo nosso trabalho e a nossa trajetória! Além da crítica ser excelente, foi feita por um crítico cuja opinião é muito respeitada!

E finalmente, após quase quinze dias, aquele engasgo na garganta se foi. Viva nós!!!!!!

Crítica na Folha de hoje!

Crítica/"O Capitão e a Sereia"

Peça reúne inventividade e tradição para vivificar teatro

Desempenho dos atores e direção precisa revelam beleza com recursos mínimos

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Os atores da Cia. Clowns de Shakespeare, em cartaz em SP

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

A invenção é a mãe do mundo ou, pelo menos, é a grande geradora do melhor teatro. O espetáculo "O Capitão e a Sereia", que faz sua estreia nacional em São Paulo, é um dos mais inventivos da temporada.
A peça parte de um livro infantil e de referências da cultura popular nordestina para construir uma reflexão contundente sobre o fazer teatral contemporâneo, além de encher os olhos do público de exuberante beleza com um mínimo de recursos.


A Cia. Clowns de Shakespeare enfrentou, depois de trajetória de 15 anos atuando no Nordeste e do reconhecimento mais recente no Sudeste, uma crise de crescimento que se revelou benéfica.
Deixando de lado as abordagens, sempre vigorosas, da tradição shakesperiana, teve de se reciclar e optou pela versão de André Neves sobre como surgiu o Cavalo-Marinho, folguedo nordestino de grande impacto cênico.


Além da adaptação do livro ilustrado de André Neves, realizada pelo encenador Fernando Yamamoto e pelos atores, entrou na composição da dramaturgia um exame radical da situação do grupo e do atual momento em que vivem as trupes brasileiras.


A história de Marinho, o menino sertanejo que sonha com o mar e se imagina em aventuras marítimas, se torna a narrativa sobre a trupe Tropega Mas Não Escorrega, cujo líder, ao ver o mar de perto, desapareceu.
O mote serve bem a um jogo narrativo dos atores, que oscilam entre serem personagens da trupe ficcional ou narradores distanciados da tentativa daqueles de enganar o público, escondendo que seu capitão sumiu do mapa.


O que se narra é, então, ora a saga de uma trupe desnorteada, ora a reflexão fria sobre essa situação dramática que, durante o desenrolar do espetáculo, se escancara. A resultante, que converge para o desfecho da história original de Neves, ela própria síntese de um rico processo de formação cultural, é uma renovação dos procedimentos do teatro épico plena de frescor e inteligência.


Artistas completos
Esse êxito artístico está fundado fortemente no desempenho extraordinário dos quatro atuadores, as atrizes Camille Carvalho e Renata Kaiser e os atores César Ferrário e Marco França, este também responsável pela excelente direção musical da peça.


Artistas completos, eles cantam, tocam, dançam e atuam muito bem, o que torna possível desenvolver com sutileza e brilho o jogo de idas e vindas entre a ficção e a atualidade da cena.


Colaboram, também, decisivamente, no encantamento sem truques do espetáculo, a cenografia e os figurinos de Wanda Scarri. Com algumas lonas estendidas no centro da cena e adereços tão simples quanto maravilhosos, ela contextualiza com eficácia e brilho todas as tramas que se enredam.


Nesse conjunto de acertos, há que destacar a direção de Fernando Yamamoto, que se revela um encenador maduro e detalhista. Sua encenação é um exemplo inspirador de como a dramaturgia e a cena podem ser tecidas coletivamente com ganhos generalizados.


É um caso em que inventividade e tradição se aliam para vivificar o teatro.


O CAPITÃO E A SEREIA

Quando: qui. e sáb., às 20h; sex., às 16h e às 20h; dom., às 19h; até 29/11
Onde: Centro Cultural Sesi Vila Leopoldina (r. Carlos Weber, 835, tel. 3833-1092)
Quanto: entrada franca
Classificação: 14 anos
Avaliação: ótimo

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eu fico todo arrepiado, por dentro!!

Ao longo da sua trajetória no campo da iluminação cênica o iluminador descobre que deve manter uma certa neutralidade crítica em relação às obras cênicas. Nem sempre iluminamos espetáculos que correspondam ao nosso gosto estético, ou que preencham todas as nossas convicções enquanto artista-criador. Desta forma, aprendemos a analisar a construção dos espetáculos pelo olhar do outro, e não pelo nosso próprio, e nele encontrar parâmetros para concretizar cenicamente aquilo que se delineia esteticamente para cada obra teatral.

Podemos considerar, portanto, que o iluminador é um artista privilegiado, pois essa relação estabelecida com o olhar do outro sempre nos indica, e nos faz vivenciar novas formas de se ver e, por conseguinte, de se apaixonar por um espetáculo. Contudo, nosso espírito deve estar aberto e liberto de amarras que nos impeçam enxergar os caminhos apontados, algo que só a experiência aprimora ao longo dos anos.

Confesso que o espetáculo “O Capitão e a Sereia” é um espetáculo que não me arrebatou de início, e o pior, custava a enxergar os caminhos apontados pelos olhares dos integrantes do grupo. O silêncio foi à tática adotada em grande parte do processo criativo, fato que gerou um certo mal estar, a ponto de muitas vezes ser questionado pela minha ausência. Talvez, o efeito da saída de alguns dos integrantes do grupo tenha recaído sobre mim, que acompanho o Clowns de Shakespeare desde sua fundação, um ano depois do acontecido!

Cheguei o viver o dilema de não ser o profissional mais adequado para criar a luz do espetáculo, mas a angústia de decepcionar o grupo em um momento tão delicado de sua existência era ainda maior ainda. O que fazer? Agarrei-me firmemente naquilo que o processo me mostrava, não propunha muitas idéias, mas tentava, na medida do possível, fazer uma síntese daquilo que os ensaios de criação tão sublimemente me apontavam, afinal processos ricos são pratos cheios para qualquer criador cênico. Estava tudo lá, apenas precisava organizar o material levantado nas cenas improvisadas e dar uma unidade que correspondesse à totalidade da obra cênica.

Com o tempo, o tão almejado o olhar do outro foi me contaminando e o caminho finalmente materializou-se aos meus olhos, começava, já perto da estréia, a ter o mesmo entusiasmo de antes, pois estava apaixonado pelo espetáculo e pleno de novo! Nem mesmo a altura do teatro me fez “esmorecer” (olha aí Marco, aprendi com você, rsrsrsrs), é bem verdade que fiz um certo dramazinho (mania que um dia hei de conseguir solucionar), mas isso não faz mal a ninguém, afinal não seria eu, não é mesmo meninos?

O resultado da iluminação cênica, de certa forma, correspondeu a todos os experimentos realizados no Barracão Clowns, logicamente com uma maior sofisticação, já que os equipamentos que encontramos no Sesi Vila Leopoldina eram mais numerosos e de melhor qualidade que aqueles que dispomos durante o processo criativo. Hoje, reconheço que a obra “O Capitão e Sereia” é a mais madura que o grupo Clowns de Shakespeare já fizera, e de que a luz do espetáculo conseguiu ficar a altura de tão digno espetáculo, fazendo-me até mesmo ficar, como diria o grande filósofo Curió, “TODO ARREPIADO, POR DENTRO!”.

domingo, 1 de novembro de 2009

UM ESPETÁCULO 3 EM 1

Que surpresa boa. Fui ver um espetáculo e vi três, três bons espetáculo. Atores e atrizes vigorosos, sem medo de enfrentar o público cara-a-cara, bem de pertinho. Dominando o formato quase arena da encenação, com gente por quase todos os lado. O espetáculo é uma viagem nas aventuras de um certo, futuro, Capitão Marinho e ao mesmo tempo rimos com os cômicos números de um trupe, desfalcada, mas muito animada e cheia de energia. E de quebra ainda temos a possibilidade de acompanhar, através da narrativa dos atores, distanciados, o drama de uma companhia de teatro que acaba de perder um importante integrante, no momento em que está prestes a dar inicio ao espetáculo.
Este é o espetáculo que eu vi, mas ele pode ser outro, ou outros. Isso porque a encenação é de uma riqueza de imagens poética que torna possível fazer outras viagens.
Parabéns companheiros e, depois dessa aventura, amigos. Vocês estão com uma bela pedra preciosa nas mãos. Estou orgulhoso de ter dado algumas remadas neste cruzeiro de luxo que virou este espetáculo. Vida Longa ao Capitão!