quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O embrião

O caminho começa a surgir.
E isso traz um pouco de tranqüilidade em meio a um sentimento de não saber pra onde ir.
Estes últimos dois dias foram bastante norteadores para o espetáculo. Agora sim, vejo o embrião se formando.
Muito bom ter algo mais palpável para seguir em frente.
Bom ouvir o Helder, o Lima, o Rômulo Avelar(que hoje esteve visitando o nosso Barracão) e o Galego, comentando sobre o material que está sendo levantado, da vontade que deu neles de ver o resto do espetáculo.
Estou contente e muito disposta.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Xô preguiça!

Eu não dava nada pelo ensaio de hoje. Às 14 horas, horário marcado para o início dos trabalhos, Marco estava pregado, dormindo no tablado. Eu, alem de muito sono, devido a um compromisso que tive junto com Marco as 6 da manhã, ainda tinha o agravante da dor de cabeça, garganta e uma moleza no corpo sem tamanho. Camille, também deitada, fazia a composição da letra da música tema da peça, tarefa passada por Fernando para todos nos.

Minutos depois chega Fernando trazendo Helder. Por último, Renata, que estava no banco resolvendo questões administrativas. Acredito que Fernando logo mapeou a situação e buscou se conectar ao grupo sem se valer de movimentos bruscos. No chão mesmo o diretor foi nos passando alguns informes. Depois, passamos a discutir questões mais diretamente ligadas ao espetáculo e, por fim, juntamente com Helder, fizemos os acertos para o trabalho daquela tarde.

Varremos o espaço, passamos o pano no chão, como de costume, e Helder foi gradualmente retomando o que havíamos construído na terça. Rememoramos o ritmo percussivo, baseado no baião, que deverá pontuar o início do espetáculo. Nessa tarefa, como é sistematizado o trabalho de Helder, fomos acessando os estados necessários ao trabalho. A batida dos tambores foi nos contagiando e dentro de algum tempo estávamos cantando, dançando, improvisando, em total contraste a postura que se instaurava no início do ensaio. É impressionante a potencia do calor cênico, seja lá como ele for gerado. Nessa hora toda a fraqueza do meu corpo já tinha ido embora. Meu medo era que depois o corpo cobrasse com juros, o que acabou não se confirmando.

Na seqüência, sob orientação de Fernando, refizemos um exercício de improvisação criado por Marco, com a perspectiva de trazermos personagens e situações da segunda metade da obra “O Capitão e a Sereia”. Alcançamos resultados muito interessantes, vários caminhos foram apontados. Foi uma experiência muito rica, eu cheguei a perder a noção do tempo. Era dia quando começamos e no final já era noite. Não saberia falar quanto tempo investimos nesse exercício.

O trabalho aconteceu em um crescente, desde as primeiras preguiçosas horas até a intensa imersão desse último exercício. Nesse meio tempo convidados ilustres foram chegando ao Barracão. João Lima, ator e diretor da Bahia, Rômulo Avelar, mineiro e autor da bíblia “O Avesso da Cena” foram dois deles. Ambos estão na cidade devido às atividades do festival de teatro que está acontecendo. Também chegou Rafael Teles, nosso produtor, Gabi, assistente de cenografia, Ronaldo Costa, nosso iluminador, Analwik, professora universitária na área de Cênicas.

Por fim, fizemos uma rápida passada para todo esse público ilustre de tudo que temos até o momento, o rascunho do início do espetáculo. Depois batemos um papo sobre tudo isso.

Mergulhando

Pra começar tenho duas constatações pra dividir com vocês.

A primeira é bem técnica e sucinta: Caramba! Até agora não tinha escrito nada no blogue dos Clowns. Ufa! Essa se resolve aqui.

A segunda é o mote da vez: Minha nossa! Só agora estou me dando conta da oportunidade que estou tendo de mergulhar de uma forma tão especial num mar que já venho nadando há um bom tempo.

Esse mar é o mar da tradição. E o mergulho é a criação do Capitão e a Sereia.

Na primeira semana que trabalhamos juntos, muito rapidamente percebi o quanto seria especial aqueles dias. Mas também muito rapidamente bateu aquela pergunta: E como será que isso tudo vai ser aplicado? Como esse material que estamos levantando poderá ajudar na criação do Capitão e a Sereia? Desde que recebi o convite, percebi que esta seria uma oportunidade de ver funcionando no outro os princípios do fazer artístico que identifico na tradição. E foi nisso que foquei. Ou melhor, é nisso que venho trabalhando. É nesse mar que venho navegando.

Saber quais e como esses princípios, esse “jeito de fazer”, como prefiro chamar, podem ser aplicados em outros contextos. Condições pra isso não faltaram na nossa primeira semana. Desejos de navegar juntos era o que enchia aquela sala naquele primeiro encontro. Mas de uma forma ou de outra, eu estava na minha praia. Basicamente o que eu tinha que fazer era mostrar quais eram esses princípios e por onde poderíamos navegar. E com aquela marujada, foi tudo muito prazeroso. Vento também não faltou.

E agora? E pra essa segunda semana?

Só navegar não será suficiente. A gente vai precisar mergulhar. E aí? Onde estamos agora, quarta-feira da segunda semana? Que mergulho é esse? Será que já estamos mergulhando?

Não me parece que é um mergulho perigoso. Conquistamos um gostar, um querer, uma intimidade, um prazer, que torna tudo mais fácil e que dá até mais sentido a tudo, como mais ou menos me disse César, logo no primeiro dia. Mas é um mergulho delicado, sutil. De um lado um querer, uma necessidade, que precisa até de uma metodologia. Do outro, a tradição, que pode virar um lugar comum, estereotipado. De um lado uma entrega, uma integração. Do outro um receio de invadir, de questionar ou invés de oferecer. E um tempo, que é intenso, mas que passa rápido.

Duas semanas marcantes na minha vida. Dessas que não tenho como avaliar tudo o que está acontecendo ao mesmo tempo que estou realizando. É daqueles momentos que são absorvidos aos poucos, de acordo com nossa capacidade de percepção e amadurecimento.

Acredito que algumas respostas virão ainda esta semana. Outras, talvez continuem sem resposta. Mas tenho certeza que a maioria delas encontrarão resposta quando eu assistir o Capitão e a Sereia.

Até já !

Helder Vasconcelos

Virada

Nessa madrugada fui assolado pela síndrome de Rafael, nosso dramaturgo. Não consigo dormir. A cabeça a mil. Já o corpo... nem tanto. Estou com dores musculares e a garganta me dói bastante. Uma moleza daquelas como se fosse adoecer. Não posso deixar que isso aconteça.

Do processo, digo que houve uma inversão. Nosso problema agora se anuncia diferente. A questão agora são as escolha. Diferente do vazio que nos deparamos dias atrás, depois que encontramos um possível fio da meada, a questão agora é o que vamos abrir mão entre o vasto material levantado.

Já percebo que muita coisa legal vai ficar de fora.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Encontrando um caminho?

Por problemas de saúde e, a partir de amanhã, por viagem, a Paulinha não participa dos demais ensaios desta semana. Assim, coube a mim manter o registro diário do processo. Azar dos leitores que perderão os relatos precisos e detalhados da Paulinha neste período... Mas tentarei me esforçar, prometo!

Ontem tivemos um dia um tanto tenso, com muitas inseguranças e indefinições, fruto das tentativas para várias direções que tivemos na semana passada. Hoje, o vento deu uma virada. A partir do que trabalhamos ontem, começamos com um trabalho do Helder a partir da pulsação do baião, em busca de um célula rítmica diferente, nossa, para o cortejo da trupe. E deu muito certo! pra variar, o Helder conseguiu puxar dos meninos um trabalho percussivo e corporal muito forte! Em seguida, ele pegou essa estrutura musical e trabalhou um pouco as formações de evolução do cortejo da trupe, a partir de passos que foram surgindo da movimentação, buscando material da sua vasta bagagem da tradição, como São Gonçalo, caboclinho, maracatu e, obviamente Cavalo-Marinho.

Em seguida, assumi a timão para retomarmos o exercício de contação da primeira parte do Capitão. Ao invés de trabalhar em círculo, como ontem, hoje dispus a plateia toda - inclusive os convidados que apareceram na sede, Galego e Renata, do Ser Tão Teatro, grandes parceiros paraibanos - frontalmente, como será esse momento. O desafio que eu havia pedido a eles como lição de casa foi encontrar uma forma pessoal de contar, que tivesse idiossincrasias na forma de levar a história ao público. De forma geral, todos tiveram crescimento. Em seguida, adaptei um exercício que o Hugo Possolo trabalhou conosco no TUSP, em que dois atores, divididos por um aparato (que os impede de verem um ao outro) disputam a atenção da plateia, que se desloca de um lado para o outro de acordo com a cena que estiver mais interessante. Além de algumas rodadas mais "sérias", com foco na qualidade da contação, também aproveitei para brincarmos com a fábula, deixando-os livres para o usar o recurso que quisessem para chamar a atenção do público. A Rê recorreu a imitações patéticas de bebê, e até um show de música baiana, a Tili espremeu todo o rosto, o César foi um tanto preguiçoso e o Marco... Ah, o Marco... Ai, ai, ai, Marco... Como relatarei ao nosso distinto corpo de leitores aquela cena, meu deus? Aquela cena que ninguém se dispôs a olhar muito???? Enfim, tentando ser fiel ao que aconteceu, mas ao mesmo tempo educado com o Marco e os leitores, digo que o referido ator contou a história utilizando partes um tanto inusitadas do corpo...

Em seguida, expliquei aos atores um pouco da ideia de organização de material que pensei até aqui, para eles entenderem onde o exercício da contação entraria. E fomos ao exercício em si. Os atores da trupe são apresentados um a um, até chegar no Marinho, o último, que não veio, naquela ideia do Márcio do ator que ainda não chegou. Então, o personagem do Marco trava, e o Marco sugeriu a entrada da versão da Canção do Mar do Roberto Leal, que baixei na net e mostrei a ele, que adorou: é brega que dói! O público acompanha esta imagem congelada com a música que fala sobre o mar cruel e o ator da trupe estarrecido pela notícia, até que os atores, desta vez dos Clowns, e não os atores da trupe, entram, tiram o figurino do Marco, deixando-o "no plano dos Clowns", e exibem a placa "O Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare apresenta: O Capitão e a Sereia, de André Neves". Após fazerem suas diferentes leituras sobre do que se trata a história, o Marco "descongela" e diz: "ou a história de uma trupe. Que ficou". A música cessa e os atores começam a contar a história do Marinho, do início até a partida, cada um para uma seção da plateia. Acho que fui meio confuso na descrição mas, enfim, o que importa, resumindo a ópera, é que acredito que encontramos um caminho bacana para a encenação. A partir desse esquema mais cru que propus, poderemos explorar a inserção de outros materiais, como conversamos na avaliação após o ensaio. Nesse meio tempo, só pra registrar, o Dudu, nosso parceiro, ator-convidado do Muito Barulho, chegou de surpresa e foi incorporado na plateia.

Em seguida, os meninos continuaram trabalhando a parte musical, enquanto eu fui com o Helder assistir a montagem de Deus Danado d'A Máscara Cia. de Teatro, de Mossoró. Meninos, relatem o final do trabalho, ok?

Agir!

Ontem, depois de uma rápida avaliação do experimento do sábado, eu comecei propondo uma cena na tentativa de clarear caminhos para o início do espetáculo. Como já desconfiava, a cena idealizada nunca é igual é cena concretizada. O resultado não foi como esperado.

No entanto fiquei satisfeito. Acredito que nos momentos de “paralisia” causados pelas dúvidas e incertezas a ação é sempre a melhor solução. O movimento, por mais que não tenha um resultado direto, na pior das hipóteses, ajuda a contagiar o coletivo, faz com que os outros proponham contra movimentos, questionem, pensem e também se movam.

Claro que também precisamos ficar atentos para não inflacionar o ambiente com ações excessivas. A limpeza informacional no espaço de trabalho é algo crucial para o bom andamento do processo.

Sempre alerta!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Momentos decisivos

Momentos decisivos esses. Depois de dois meses de levantamento de material, permeados por muita liberdade de criação, é chegada a hora de começarmos a fechar nossa proposta de encenação. A partir de então precisamos começar a cristalizar o nosso produto.

Essa é uma etapa crucial, onde se define a temperatura do espetáculo, onde se determinam os balizadores entorno dos quais a obra será erguida. Justamente por isso, acredito estarmos passando pelo momento mais delicado de todo o processo.

Nos últimos encontros percebi alguns princípios de tensões e ansiedades. Mas a maturidade do grupo, pelo menos por enquanto, continua a prevalecer. O grupo esta ciente do momento e das circunstancias, e percebo também que existe um entendimento, não verbalizado, que a calma e a tranqüilidade é a melhor postura para esses dias.

Acredito que nos próximos dias conheceremos a cara da criança.

domingo, 9 de agosto de 2009

Importante! Leiam!

Olá, todos! Saudades! Saudades!

Marco e Rê! A saudade bateu mesmo...ai, ai... a água tônica, as piadas, o corre-corre, o Marcos Palmeira, as mulheres de trouxa, os filmes, as gargalhadas... tudo.

Ôpa... Voltando aqui! Apreensão,caos, etc... tive que organizar.

A primeira coisa que estou fazendo aqui em Fortaleza é esquematizar os níveis de representação. Que horas vocês são clowns de fato; que horas interpretam um grupo de teatro e que horas vocês interpretam a trupe de Marinho. Daí surgiram novas questões a serem pensadas. Fiz também uma sugestão, no final.


NÍVEIS DE REPRESENTAÇÃO

1- Clowns, sem máscaras. (São as 4 primeiras falas).
2- Um grupo de teatro atrapalhado. (São todas as outras falas e também o prólogo shakespereano).
3- Trupe do Capitão Marinho. (Até agora, neste nível, temos apenas a letra das duas canções).


FUNÇÃO DRAMATÚRGICA

1- Produzir distanciamento, quebrar a ilusão. Provocar o senso crítico. Revelar o posicionamento dos Clowns de Shakespeare. Mostrar ao público uma trupe unida, consciente e em consenso de idéias.
2- Criticar através do riso alguns preconceitos ou dogmas estabelecidos sob o fazer teatral. Esta é a camada do “desespetáculo”.
3- Questionar o paradeiro de Capitão Marinho. Mostrar como a trupe pode sobreviver (ou não) aos percalços. Jogar o público no campo da contação.


QUESTÕES QUE SURGEM

Qual a função das narrações de histórias fora do mundo de Capitão Marinho? Por exemplo: O Velho e o Mar, Urashima Taro... Por que motivo elas são contadas? Tem de haver algum sentido. Mesmo sendo histórias bonitas de mar, podem soar descabidas.

A solução pensada por vocês, até onde eu me lembro, era a de que as estórias fossem tentativas de explicação da trupe à pergunta: onde está Marinho? Caso seja, temos de lembrar que quem contará essa estória são os personagens da trupe. Então, é outra abordagem para a narração. São artistas mambembes, são a terceira camada de interpretação do texto. Teríamos que ter, então, aqueles bizarros ou miseráveis da trupe contando a estória de Marinho, o que dificultaria e muito o tipo de leitura que está sendo dada a cada estória. Uma visão sofisticada demais, com metáforas políticas, etc.

Portanto, precisamos ver o sentido dessas narrações para a peça, e em qual dos níveis elas estarão inseridas.


SUGESTÃO

Uma sugestão: Tirarmos o segundo nível de representação. Facilitaria o entendimento, de cara. Acho que muitas das questões existentes nele já estão contempladas de forma mais profunda pelos outros níveis. Deixaríamos, então, a trupe do Clowns (que são vocês próprios, mas cumprindo a função de atores-narradores) e a trupe do Capitão Marinho. Acredito que assim nós conseguiríamos mais a “visão dialética”. Aumentaríamos o jogo, o ritmo, e não perderíamos tempo com algumas cenas que podem consistir realmente em “fuga ao tema”. Como diz o César, estamos com barriga textual.

De um lado, teríamos o elenco do Clowns, que conta uma estória, exigindo imaginação do público e, ao mesmo tempo, visão crítica. Tem papel importante também, como exemplo real de grupo que está de pé, firme.

Por outro lado, teríamos a trupe que espera o Capitão voltar como quem espera Godot. Que vai improvisando por não saber o que fazer concretamente. E que terá de reaprender a funcionar. Terá de se reerguer a todo custo.


Por favor, releiam a postagem até que fique claro o que quero dizer, e pensem nisso, ok? Fernando, por favor me ligue na hora que puder, ok?

Ai, como é foda não poder estar aí segunda às 14 horas em ponto! Rsrs... Saudade mesmo.

Beijo, gente!

E por favor, escrevam sobre o que está se passando nas cabeças de vocês. Eu preciso!!!!!!!!!


Rafael Martins