sábado, 11 de julho de 2009

Coisas

Bom, como Fernando já fez o meu trabalho de descrever o dia de hoje, e de maneira bem mais interessante, vou falar apenas de minhas percepções sobre a apresentação de hoje.

Cada vez me envolvo mais com esse processo. Hoje fiquei até nervosa, e não me pergunte o porquê, pois não saberia responder. A apresentação foi muito bonita, porém tiveram alguns momentos que foram menos curtidos, e acho isso porque tenho a referência dos ensaios que assisti. Ao mesmo tempo, os meninos na cena dos pescadores brincaram e contaram a história de modo que equilibraram as duas coisas, conseguimos rir e entender o que estava sendo contado.

Já na narração das meninas, por causa da imagem das lamparinas e do efeito do mar, tive dificuldade de me concentrar na história, até porque estava preocupada com aqueles lampiões acessos, com medo de que escorregassem. E a música do final, tocada pelos meninos foi bem mais curtida por eles. É impressionante ver como essa melodia é encantadora, o quanto ela emociona o as pessoas.

Ana Maria Braga

No debate ao final do Barracantes de hoje o Danúbio, do grupo Pau e Lata, observou com muita perspicácia que o título que demos ao experimento - Ressaca - o fez lembrar que uma ressaca pode ser muito boa, como dizem ser quando se bebe, por exemplo, um excelente uísque.

Nossos puros maltes 18 anos respondem pelos nomes de Márcio Marciano, João Lima e Helder Vasconcelos, além dos demais colaboradores que passaram - e estão passando - pelo Barracão neste primeiro mês de processo que se finda. Degustamos o melhor que esses profissionais, tão parecidos na qualidade, seriedade e ética de trabalho, mas tão distantes, em alguns aspectos até opostos, no pensamento e nos procedimentos de trabalho, deixaram para nós nessas três semanas de imersões, de mergulhos, e mergulhões.

Durante a semana de trabalho, me deparei pela primeira vez com a "responsabilidade" de "dirigir" um experimento, para ser apresentado no Barracantes. As aspas se dão porque, em primeiro lugar, não pesou nenhum tipo de responsabilidade: esse formato arreganhado de processo que estamos experimentando nos coloca numa posição de extremo conforto - na melhor acepção da palavra - e tranquilidade em ser absolutamente honesto com o material que criamos, sem preocupação com a espetacularidade do resultado que, apesar de tudo, está lá! Pero que las hay, las hay!!! Em segundo lugar, porque "dirigir" é um termo controverso em processo tão coletivo e com tamanho grau de contribuição de todo o elenco, do Marco como diretor musical, e de todos os outros colaboradores...

Passei a semana pensando em como encontrar uma forma de organizar uma parte do material que temos para levar ao público de forma a tentar organizar um discurso - cênico, não verbal - para começar a responder a uma das perguntas do debate no último sábado: "Como esse trabalho com o Helder vai ser usado no espetáculo?". Ampliei a questão para pensar como todas essa influências serão utilizadas no espetáculo, e aproveitei o luxo de ter um espaço de experimentação, com público e tudo, durante todo o processo, para testar costuras, encaixes, diálogos entre soluções, entre materiais, abordagens mais "encantatórias", outras provocadoras, geradoras de distanciamentos, etc.

Então, usei um pouco de cada ingrediente que nossos parceiros deixaram, e testei uma receita nova: uma xícara de chá de dialética marciana, duas colheres de sopa de neutralidade e estado de "ser" limísticas, pitadas de pulsação do baião vasconcélica à gosto (confesso que usamos em excesso, mas ficou uma delícia) e, por fim, muita energia do "jeito de fazer" dos brincantes do Cavalo Marinho polvilhada por cima. Deu certo! Deu jogo! Deu samba! No samba! Aí dentro!

Até a luz do Espiral foi praticamente toda usada, sem mexer. Só quatro refletores reafinados. Uma tarde muito baba pro Ronaldo.

Tivemos um público de quase quarenta pessoas. Apesar de não estarmos muito preocupados com a quantidade de pessoas que vão acompanhar o processo, não posso negar que fiquei muito feliz. Senti falta dos três mosqueteiros, Sávio e as duas meninas - perdoem-me, não lembro o nome de vocês! - que desde o princípio vêm mantendo a regularidade. Falta na caderneta! Semana que vem mandaremos um bilhete para os pais!

Além de quantidade, muita qualidade na plateia. Alguns que nunca tinham vindo, outros que retornaram. Três figuras importantes do teatro nordestino: Lindolfo Amaral, Luiz Carlos Vasconcelos e Eleonora Montenegro, que estão de passagem pela cidade para uma curadoria. Vieram acompanhados da Ivonete Albano, grande artista potiguar, e com quem tive alguns "desentendimentos virtuais" recentemente, o que fez dessa vinda dela ainda mais bacana. E, em especial, alguns moradores da Amâncio Ramalho, nossa rua, que finalmente vieram! Em todos os Barracantes passamos pelas casas levando convites especialmente feitos para eles, chamando para virem, mas até agora ninguém tinha vindo. Neste sábado, alguns não só vieram, como participaram do debate, e prometeram voltar, super empolgados!

Foi muito bom ver o Lindolfo na plateia assistindo um experimento em roda, ele que veio trabalhar conosco ano passado e tanto falou na roda, configuração cênica que tanto gosta e pesquisa. O Luiz Carlos, que viria para o Oficinão trabalhar conosco e acabou não podendo vir por falta de datas, também fez observações muito preciosas.

O debate foi muito rico, com muitas contribuições interessantes. Acho que, aos poucos, nós e o público estamos começando a entender esse processo, entender esses Barracantes. É muito legal comentários como o do Abel, do Tropa Trupe, fazendo associações entre um experimento e outro, ou o Danúbio e a Eleonora trazendo suas experiências com a música para o nosso trabalho.

A única pena é que, por conta de uma série de compromissos, o próximo Barracantes com experimento do Capitão vai ser daqui a um mês. Nesse meio tempo, teremos eventos todos os sábados (à exceção do dia 1/8, que a Adelvane apresentará seu espetáculo A-MA-LA na Casa da Ribeira). O processo de montagem continua, mas demoraremos um pouco para voltar a ter essa troca cada vez mais saborosa com o público.

Experimento 93.447

Fotos: Maurício Rêgo





sexta-feira, 10 de julho de 2009

Estímulo

Marco trouxe para o ensaio três vídeos: A Pedra do Reino, Hoje é Dia de Maria e Moby Dick. Nós assistimos algumas cenas por ele selecionadas que traziam alguns estímulos sonoros e imagéticos.

Em seguida, os meninos apresentaram as melodias criadas a partir da letra que Rafael Martins havia criado, e Marco apresentou a que ele havia criado. Aos poucos, os quatro trabalharam nessa melodia, jogando com movimentos e com instrumentos. Marco fala disso com mais propriedade no post dele chamado Tempestade.

Depois, eles começaram o ensaio da orquestra de músicos que, ao invés de tocar, cantam os sons de seus instrumentos. Treinaram também o tema de Marinho e fizeram ajustes para o exercício será apresentado amanhã no barracantes.

Ao final, conversamos sobre o exercício que Marco propôs de criar a melodia e Fê sugeriu que Marco desenvolvesse arranjos a partir das melodias que os meninos criaram e que buscasse dinâmicas em que os meninos pudessem ser cada vez mais participativos. Marco pediu que os meninos pesquisassem algum tipo de percussão que utilizem água.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Exercícios

A tarde começou com Sávio de Luna trazendo mais um pouquinho de sua contribuição através do contact improvisation.

Trabalhamos movimentações com o corpo no chão, pensando nas articulações e em um corpo “sem ossos”. A seguir, fizemos movimentos a partir do quadril, deixando que ele fosse o condutor, exercitamos rolamentos e Sávio mostrou algumas movimentações em duplas, e fizemos alguns movimentos acrobáticos.

Mesmo tendo participado de poucos encontros, tenho gostado cada vez mais desses momentos de contact, pois isso tem me possibilitado uma maior compreensão do meu corpo. E ao observar os meninos trabalharem, percebo que aos poucos eles tem criado uma relação corporal maior entre si, e espero que isso só venha a crescer porque para mim é claro quando dois corpos se escutam, se permitem, e acho que isso pode e deve refletir no palco, pois faz parte do jogo.

Os meninos ensaiaram a toada Fulô – não sei como ela se chama, então a chamo assim -, brincaram um pouco com a letra da música, e depois Fê pediu a Camille e César que trocassem de instrumentos, ele pegou a zabumba e ela o triângulo. Os atores treinaram um pouco como tocar os instrumentos e depois, ao invés de tocarem os instrumentos, eles cantaram apenas os sons de cada instrumento.

Depois, Fê propôs um exercício em que os atores entravam como uma orquestra sinfônica, davam uma volta circular olhando o público, mostravam os instrumentos e depois iam para o meio da roda. Marco, como maestro, pedia com gestos que os “músicos” afinassem os instrumentos, depois eles começavam, ao invés de tocar os instrumentos, a cantar os seus sons. Em seguida, Fê colocou banquinhos no centro da roda, e pediu que os atores sentassem. Depois eles levantaram e criaram movimentações a partir dos sons que cantavam e, já sentados, encontraram uma equivalência do movimento em pé.

Após o exercício, eles começaram a ensaiar o workshop da procissão. Colocaram os chapéus, os bonecos de dedo, e cantaram músicas religiosas da igreja católica. Marco trouxe uma sugestão de música nova, A Barca, que tem a ver com mar e pescador. Os adereços dos meninos são muito bonitos, porém não estão tão firmes, assim enquanto eles cantavam, tudo os chapéus, os bonecos iam caindo.

Isso me lembrou um pouco um espetáculo do grupo, O casamento, em que as coisas também desmoronam. Porém, no ensaio, ao ver a cabeça dos bonecos caindo (sem ser de propósito) me remeteu a pessoas perdendo as cabeças, sendo manipuladas pelo fanatismo religioso, e também fiquei pensando o quanto aquela imagem é forte, talvez porque eu seja “católica”, e como ela suscitou em mim, questões que ao meu ver são importantes e que merecem atenção.

Ao terminarem o ensaio, seguiu-se uma pausa rápida para repor energia e ir ao banheiro. Na volta, os meninos conversaram sobre o que experimentaram hoje e sobre as amarrações para o barracantes no sábado. E em seguida, fizeram um ensaio dos exercícios, e das idéias que tinham tido, também dividiram entre os atores a história que irão contar.

Ah, depois que Tililim saiu para fazer sua prova de inglês, os meninos ainda ficaram conversando sobre questões pessoais do grupo. E para mim foi importante estar presente nessa conversa – apesar de não ter falado nada – e ver que o grupo se preocupa não só com o trabalho, mas com cada pessoa que compõe o grupo, e também com as pessoas queridas que estão ao redor.

Bom, foi quase isso... pois sempre acontecem coisas que por escolha, ou esquecimento, acabo não relatando aqui.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Fulô

O grupo começou o trabalho com uma reunião com Carlos Fialho, do Jovens Escribas, sobre um projeto em comum entre os dois coletivos que estão elaborando. Assim que acabou a reunião, Marco iniciou um trabalho musical com os meninos. Primeiro ensaiaram o tema do capitão, depois fizeram um exercício que Marco propôs.

Ele arrumou o espaço com alguns instrumentos de quatro timbres diferentes, formando um relógio na sala. Daí os meninos fizeram um aquecimento andando pelo tablado, percebendo a pulsação coletiva e individual, procurando manter o espaço equilibrado, olhando no olho do outro, entre outros direcionamentos que Marco ia falando enquanto também fazia. Ainda nesse exercício, fizeram um jogo de palmas, contando de 9 a 1, procurando manter a pulsação e a contagem, enquanto Fê pedia para os atores pararem em alguns momentos, e depois continuarem.

Fotos: Maurício Rêgo

Seguindo, três atores sentaram nos cajons, e um ficou no meio da roda. O exercício era explorar os instrumentos, enquanto a pessoa que estava no meio também explorava movimentos, texto, canção, o que quisesse. Aos poucos quem estava no meio, usando um passo do Mergulhão, chamava o outro para o meio, e ia para o instrumento. Todos passaram pelo meio da roda e por todos os instrumentos.

Fê interferiu no exercício do César, e depois da Renata, fazendo algumas intervenções. Depois, pediu que Marco lembrasse da história do Velho do Mar – que não é O Velho e o Mar – apenas em pensamento relembrando a figura do pescador que havia criado em um workshop junto com César. Depois, César também entrou e aos poucos eles foram criando relação. Enquanto isso, Tililim, Rê e Fê estavam tocando instrumentos. Primeiro Marco começou a contar a história e quando ele parou César continuou, como pescadores. Depois apenas como narrador.


Depois, as meninas entraram na roda, e os meninos saíram e assumiram os instrumentos. Enquanto os instrumentos tinham um batida forte, as meninas jogavam com movimentos no meio da roda, depois uma delas batia com os pés no chão, e começava a contar a história, procurando apenas narrá-la, sem teatralizar. Após algumas trocas, elas contaram a história ao mesmo tempo, sendo que cada uma voltada para uma parte do público.

Em outro exercício proposto por Marco, os meninos cantavam uma toada, que aprendemos na semana com Helder, e um deles era o capitão, e o restante o coro. Cada um, na sua vez, era o capitão. Tudo o que o capitão fazia de movimentações, o coro repetia. Surgiram movimentos bem interessantes.


Ao terminar o exercício, Marco pediu que os meninos em casa pensassem numa melodia para a letra de música que Rafael Martins criou.

Fê colocou alguns instrumentos no centro da roda. César pegou a sanfona, Camille a zabumba, Renata o coquinho, e Marco o triângulo. Eles tocaram os instrumentos, cantando a toada “Plantei jerimum...”, procurando ajustar a melodia, e depois Fê pediu que Marco e César trocassem de instrumentos. Os meninos brincaram um pouco ao cantar. Fernando pediu que eles registrassem um pouco do jogo que havia surgido entre eles.


Por fim, sentamos no chão e conversamos sobre como foi o dia. E a música ficou na minha cabeça...
“Plantei jerimum estendeu não butô (2x)
Viero as menina e apanharo a fulô (2x)
Fulô, Fulô
Viero as menina e apanharo a fulô (2x)”

terça-feira, 7 de julho de 2009

Portas Abertas

Após três semanas de muita agitação, informação e trabalho no barracão, hoje senti uma sensação estranha - mas não ruim - ao chegar à sede e perceber ela tão silenciosa.

Como Fê disse, sábado a gente fechou o primeiro ciclo de trabalho, pois depois de algumas semanas trabalhando com pessoas diferentes, agora o grupo começa a caminhar “sozinho”, embora com portas abertas.

A partir disso conversamos sobre as sensações desse primeiro momento do processo e as contribuições que ficaram desses parceiros. Falamos um pouco sobre o desenvolvimento do trabalho do ator e a busca pela forma de narrar, que gere um distanciamento mesmo mantendo a poesia, tendo consciência de um discurso cênico que trabalhe esse olhar dialético sobre a criação, que tem sido algo que o grupo deseja se apropriar.

Falamos também do ator em função do teatro, das percepções de Gabriela com relação à cenografia nesse momento, das fichas que caíram após algumas oficinas, da relação de respeito entre o grupo e parceiros, da forma como o grupo se utilizará das informações, do que foi degustado nessas últimas semanas, e da saudade que ficou de bons momentos.

Seguindo, Fê direcionou o trabalho das próximas semanas. Pediu que os meninos fizessem um workshop a partir de algumas ilustrações do livro, assim cada um escolheu uma página, e irá criar fotografias a partir delas. Também falou para Marco pensar em uma pulsação marcada na cena da pescaria criada durante a semana que passou.

Organizada a semana, os meninos fizeram um aquecimento em círculo usando um jogo de palavras, um ator dizia uma palavra e o seguinte falava outra correlata, mantendo a pulsação com o estalar dos dedos. Depois, Fê fez outros direcionamentos dentro do mesmo jogo, pediu que falassem as palavras mantendo uma movimentação, girando em círculo, se movimentando pelo espaço mantendo a pulsação, depois acrescentou uma palma ao ritmo.

Após o jogo, os meninos iam trabalhar no workshop do Marco e da Gabi, que tem relação com a ilustração da página 13 do livro do Capitão. Entretanto, isso teve que ficar para amanhã, pois houve algumas interrupções durante o dia para resolver arte gráfica e receber os cajons, novos brinquedinhos para a diversão musical do grupo.

Os brinquedinhos novos...