segunda-feira, 22 de junho de 2009

Dia de Iemanjá


Hoje foi o primeiro dia de trabalho com o diretor João Lima. Começou com uma conversa rápida sobre a programação do grupo nessa semana, e o Lima falou um pouco sobre o roteiro que pretende trabalhar, mas que tudo irá depender do andamento da semana.

Participei de alguns momentos dos exercícios propostos por Lima. O primeiro deles, foi a “Roda do Olhar” (denominação do próprio). Todos da equipe fizeram um círculo pequeno, e cada um, na sua hora, foi para o centro, e olhou nos olhos de todos que estavam na roda. Para mim, foi ótimo ter esse momento, poder parar e olhar nos olhos das pessoas que estão dividindo comigo esse processo, sem precisar dizer nada, apenas olhar e sentir o outro, foi muito bom.

A Roda do Olhar, clicada pelo Maurício "Cuca" Rêgo

Em seguida, ainda em círculo, trocamos massagens e boas batidinhas. Depois fizemos o “Aquecimento da Felicidade”, criando uma energia positiva para os exercícios que viriam a seguir. O aquecimento consistiu em cada pessoa dizer o nome no meio da roda, com entusiasmo. Depois acrescentamos um sobrenome inventado, e este tinha que ter a mesma letra inicial do primeiro nome. Por último, dissemos o sobrenome acompanhado de um gesto, que foi repetido por todos, em sistema de coro-corifeu.

Começamos a andar pelo espaço, e os comandos do Lima iam se modificando. Primeiro, a gente andou pelo tablado, e quando uma pessoa parava, os outros, no mesmo instante, também o faziam, e quando alguém decidia voltar a andar, os outros também voltavam. Depois começamos a correr, e quando parávamos, tínhamos 8 tempos para deitar no chão, e para subir. Foi isso até chegar à 1 tempo, depois no deitamos, e ficamos em posição de “X”. Os objetivos desse exercício eram trabalhar a atenção, o olhar, a percepção e também aquecer os atores.

O exercício seguinte faz parte do sistema de Laban/Barteinieff. Deitados no chão, ainda em posição de “X”, com os pés direcionados ao teto, fizemos alguns movimentos que cito a seguir:

- Respiração celular: o corpo respira como uma célula só.

- Irradiação central: o ar entra pelas seis pontas, pés, mãos, cabeça e cóccix.

- Movimento centro-periferia: deslocamento do corpo.

- Homolateral: contração dos lados do corpo (direito e esquerdo).

- Pré-elevação da coxa: ao expirar, subir a coxa, até que o joelho aponte para o teto.

- Elevação da coxa: na expiração, levantar a coxa, sem perder a posição de 90 graus.

- Queda de joelho: deixar os joelhos caírem para o lado.

- Queda de joelho com propulsão da coxa: levantar a coxa como se fosse chutar a mão contrária.

- Balanço homolateral: deixar que um lado do corpo, leve o outro.

- Alongamento homolateral: torção do corpo.

Todos os movimentos do corpo, sempre eram feitos na expiração.

Ao terminarmos essa parte, começamos a fazer uma exploração cênica dos exercícios técnicos, atravessando de um lado para o outro da sala, em linha reta: com o corpo todo, total; procurando movimentar apenas da cintura para cima; com a parte de baixo; com o lado direito; com o lado esquerdo; e utilizando torções. Algumas vezes caminhávamos ao som da sanfona, tocada por César, e outras ao som do piano, tocado por Marco.

Depois, o Lima pediu para escolhermos duas formas de andar das que foram exploradas. Divididos em duplas, cada um em uma extremidade do tablado, ao nos encontrarmos no meio, pediu que estabelecêssemos interação, e depois seguíssemos individualmente, ainda na diagonal, influenciados pelo movimento do outro.

Foi interessante perceber essa interação, e o quanto esses movimentos sugeriam imagens interessantes, muitas vezes pareciam dança.

O próximo exercício foi feito em trio. Primeiro, Rê, César e Camille, depois Marco, Fernando e eu. Tinham três banquinhos, e o trio ficava sentado, e de olhos fechados. O Lima pediu para que alguém começasse a contar uma história que tivesse acontecido consigo, e se alguma palavra da história lembrasse o outro de alguma história dele, este utilizava a deixa, interrompia a história do outro e começa a contar a sua. Foi bem divertido.

Depois, sentados no chão, em um círculo pequeno, escolhemos um título de uma história, O último beijo, e o lugar onde ela aconteceria, uma barbearia gay. Para contar essa história, cada um só podia falar uma palavra de cada vez, sendo que preposições e artigos eram considerados palavras, e se poderia utilizar ponto final, mas este não era considerado uma palavra. O interessante é que, ao dizer uma palavra, eu tinha em mente uma história que estava tentando construir, porém a pessoa que vinha depois, tinha outro pensamento, e mudava tudo, no entanto, algumas vezes a história corria como todos estavam pensando, eu acho.

O improviso. Rê e César, fizeram uma cena, em que Renata estava em casa, limpando, e César chegava, primeiro como diretor da escola de Marinho, depois como recenseador. Eles tinham que contar um pouco da história do Capitão. Marco e Camille também fizeram uma cena, Marco fez um vendedor de cruzeiros, e depois de tele-sena, que se encanta de forma grotesca pela Camille, que estava limpando uma casa.

O Lima, a partir das cenas apresentadas, falou da importância dos detalhes e texturas de uma cena, do não interromper a ação ao falar, e de criar outras formas de pensar.

O último exercício do dia, foi o “Diálogo no Espaço”. Em duplas, os atores andavam por um espaço determinado, sendo que um ator caminhava de cada vez. O olhar deveria estar voltado para o horizonte, e todo o corpo estar neutro, também só poderiam andar em linhas retas. Eles exploraram as direções, o tempo do caminhar, e a utilização do espaço em relação ao outro. Em alguns momentos a neutralidade e o olhar se perdiam. Para quem estava observando, foi bom perceber o quanto o corpo expressa, diz muita coisa, só por estar no espaço, e que comunica pelo deslocamento. Na última rodada, o Lima foi acrescentando os atores, um a um, até que os quatro interagiram juntos no espaço.

Lima cedeu um tempo para que César e Marco apresentassem algumas ideias sobre como contar a história do Capitão. César apresentou um workshop, sobre utilização de sombras, para representar o encontro de Marinho com ele mesmo criança, quando ao encontrar a concha adulto, voltaram as memórias do seu passado. Para isso, eu e Tililim fizemos uma sequência de ações, pedidas por César, e com o tempo determinado por Marco ao piano. Eu fui a sombra dela, e fiquei atrás do pano. Possibilidades de imagens e ambientações através de sombras.

Marco também apresentou um workshop. Ele trazia numa mão um farol/lanterna, e na outra um fio com um saco plástico branco na extremidade, que girava como sendo as gaivotas. Enquanto isso, narrava um texto que fazia menção à volta do Marinho à trupe, tentando fazer uma relação com o retorno do Santiago após seu peixe ser devorado pelos tubarões. Ao final, um barquinho atravessou a diagonal do palco, arrastado por um fio de nylon e iluminado pela sua própria lanterna, numa imagem bonita. Apesar disso, achei a cena – em especial o texto – um pouco confusa.

Para finalizar o trabalho do dia, muito proveitoso, por sinal, fizemos uma roda, e Lima deu de presente ao grupo, uma pequena Iemanjá, muito bonita. E hoje choveu durante boa parte do ensaio, parece que ela trouxe as águas e as boas energias com ela.

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