segunda-feira, 29 de junho de 2009

Mergulhão

Chegaram hoje ao barracão mais duas pessoas que irão contribuir com o processo do Capitão, o querido Helder Vasconcelos, ator, músico e dançarino, formado nas tradições de Cavalo Marinho e Maracatu Rural, e o fofo Rafael Martins, ator e dramaturgo do grupo Bagaceira, de Fortaleza, ô terrinha boa!

Antes de partirmos para o trabalho prático, tivemos uma conversa rápida com Helder, na qual ele apontou algumas coisas em relação ao que iria fazer e tirou dúvidas. Falou que os exercícios não exigiam nenhum pré-requisito físico, da sua formação no cavalo marinho, da forma de fazer, da relação do indivíduo e do coletivo, e do elemento básico desse fazer: a pulsação. Os meninos também colocaram que seria interessante conhecer mais sobre a brincadeira do Cavalo Marinho.

O primeiro exercício que fizemos foi em cima de algumas propriedades do Mergulhão*. Primeiro, cada pessoa escolheu o nome de um lugar (Marco/praia, Rê/parque, Helder/montanha, César/rio, Camille/morro, Fernando/árvore, Paula/beco), depois o jogo continuou e passou por cinco etapas:

1. Estabelecer relação
2. Relação com pulsação
3. Relação e ritmo
4. Relação, ritmo e tempo específico
5. Relação e desenho rítmico do passo (o passo acompanha a toada*).

Durante o jogo, Helder foi explicando algumas coisas, falou sobre o baião ser o pulso do jogo, ritmo do Cavalo Marinho, da relação de conhecer primeiro o seu lugar para depois ir a outro – isso é bem parecido com o que Lima trouxe na semana anterior, primeiro existir/ser para depois relacionar –, e a diferença dos eixos do corpo, como este se comporta usando a frontalidade e a lateralidade.

Depois de uma pausa para descansar, iniciamos o segundo momento, em que trabalhamos a mesma coisa, mas sem formato de jogo e de forma mais específica.

Cada um encontrou uma pulsação interna, e essa pulsação foi transmitida a partes isoladas do corpo, como braços, cabeça, ombros, quadril… Continuando, encontramos uma pulsação coletiva, e Helder foi direcionando o exercício através do deslocamento dos atores no espaço. Ele trabalhou em cima de parâmetros musicais, como volume – este relacionado a movimento, espaço, níveis –, altura, andamento, compasso, entre outros.

Foi muito interessante a forma como Helder conduziu o primeiro e o segundo momento de hoje, pois nós chegamos ao ritmo do baião de uma forma muito fluida e divertida, e fizemos alguns passos de outros momentos do Cavalo Marinho. Depois conversamos, com a presença também de Sávio de Luna.

Na conversa, Helder falou sobre o Cavalo Marinho, disse que ele tem regras específicas, um modo de dançar em relação a música, uma relação direta com a necessidade que o move e não tem caráter religioso, embora possua religiosidade. Foram levantadas algumas questões sobre a relação da música com a dança; tradição x contemporaneidade; o corpo como instrumento musical; o uso da tecnologia, a precariedade no fazer teatral e a criatividade; não ser refém de um espaço; sua relação com a tradição; e a escola da tradição.

Uma imagem bacana que Helder trouxe durante os exercícios foi a seguinte: através da pulsação, define-se o trilho de um trem. O ritmo é o baião, e a viagem é o trecho que leva a várias variáveis dentro do baião, um lugar mais específico. A pulsação guia, mas não limita, e é importante que essa pulsação, antes de ser exteriorizada, seja internalizada, como se o nosso corpo fosse água, uma barragem que transbordasse.

*Glossário:

Mergulhão: É uma dança, momento que faz parte do início da brincadeira do Cavalo Marinho.
Toada: música do cavalo marinho.
Loa: poesia recitada.
Trupé: passo (desenho).
Martelo: refrão da música, momento em que há o mergulho.
Banco: grupo de músicos que tocam no Cavalo Marinho, formado por rabeca, pandeiro, baje e mineiro (ganzá).

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