quinta-feira, 2 de julho de 2009

Organizando as idéias

Por favor me corrijam no que eu estiver equivocado...

1- BUSCANDO COMPREENDER (Questões iniciais)

Antes de iniciar a construção textual, acho importante me conectar ao sentido maior da montagem. Buscar o porquê, a necessidade que deu início a tudo. Sei da admiração de todos pelo livro de André, mas sei também que a escolha se deu de forma pragmática, visando atender às prerrogativas do edital, já que havia apenas uma semana para o encerramento das inscrições.

A urgência, digamos assim, foi motivação. Portanto, não pude desprezar este elemento. Precisei encontrar as raízes dessa urgência. Uma delas, obviamente, está na possibilidade de uma montagem patrocinada. Quase todos os grupos se inscrevem em editais, mas eu precisava achar o que se passava “neste” grupo, e não em outro qualquer. O que alimentava essa urgência.

De cara, tenho um grupo exponencial da região Nordeste, em crescente reconhecimento externo. Internamente, porém, o grupo passou por um maremoto que levou alguns membros. Depois das fortes ondas, o primeiro movimento é o de se por em pé, até mesmo por impulso. É humano. Diante do alarme, primeiro reagir. Depois pensar.

Imagino que este impulso de reafirmação, por parte dos que ficaram, seja o cerne de tudo. Mas não é tão simples. A equipe mudou, o grupo se afunilou. Trata-se de uma nova configuração. Se as coisas já não são as mesmas de antes, reafirmar-se, neste caso, será também reentender-se.

2- ATO DE RESISTÊNCIA

Quando um grupo pretende se reentender, volta às perguntas mais básicas, como:

- O que nos une?
- Porque ficamos nós?
- O que queremos do teatro?
- O que “não” queremos?
- Qual a essência do que fizemos até agora?
- Quem sou eu para meu grupo?
- O que é a nossa arte diante do mundo?

Questões tão amplas que jamais teremos todas as respostas. Devemos sempre estar nessa revisão interior. Mas há momentos excepcionais, em que essas perguntas nos vêem com mais intensidade, tornando-se a própria matéria de construção do espetáculo. Acredito que este seja o caso.

A montagem de O CAPITÃO E A SEREIA me parece, cada vez mais, uma auto-reflexão sobre a condição existencial (e até mesmo material) do próprio teatro. Uma atitude de resistência a tudo, nos mais diversos sentidos.

Daí a ideia de uma peça que valorize o trabalho do artista. Quanto ao processo, o grupo já começa a definir opções estéticas coerentes com o pensamento de resistência: pretende buscar o que o teatro tem de inconfundível e, sobretudo, insubstituível. Sem floreios, sem maiores efeitos.

Em tudo a concepção desta peça me parece um retorno ao embrionário. Na forma e no conteúdo. Da simplicidade das perguntas à precariedade do fazer. E fazer simples é muito difícil. Como diz Clarice Lispector: “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho".

Ser simples é não enfeitar, é ir direto ao ponto. Nada mais importa, a não ser o essencial. Daí a busca por esse teatro-manufatura, pela teatralidade que se revela aos olhos da platéia, que desmistifica inclusive o glamour da surpresa, da estréia. Que vai se mostrando passo a passo como exercício, como trabalho suado.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensando numa escrita sob medida, acredito cada vez mais na importância de trazermos a história O CAPITÃO E A SEREIA para perto da própria história do Clowns. Que as trupes por vezes misturem e se confundam. Uma sugestão que surgiu no blog me parece ser uma boa ferramenta: a ênfase estar no olhar da trupe, e não no de Marinho. Enfim, ideias continuarão surgindo, mas quis destacar essa, que me chamou atenção.
Fundamental mesmo é pensarmos maneiras de realçar essas relações de cooperação e cumplicidade. Um correndo para colocar o cenário para o outro, um tocando para o outro que canta, alguém limpando o chão para a cena do outro... sei lá. São apenas exemplos tolos. Falo de mostrarmos que o teatro é uma experiência coletiva profunda. Resistir, resistir, resistir!

Um comentário:

  1. Bem-vindo, comandante das palavras! Ótimas reflexões, nota-se que essa semana, mesmo de fora do tablado, já estão te colocando plenamente na atmosfera do nosso trabalho. Trabalhemos, pois!

    ResponderExcluir