sexta-feira, 19 de junho de 2009

Oceano de possibilidades

Cena do workshop "O Nascimento do herói"

Esse é o meu primeiro relato do processo de montagem do Capitão e a Sereia. Para mim, é uma grande responsabilidade, por tentar escrever aqui um pouquinho de tudo que se passa dentro do Barracão, e percebo que preciso ir com calma, entendendo o que ocorre nas ondas da equipe, para que eu possa contribuir com esses registros, pois já peguei o bonde andando, e com muita potência!

Aos poucos a tripulação foi chegando para mais um dia de visita ao mundo do Marinho, a princípio cumprimentos, questões administrativas, e um bate bola, como Marco já disse, com direito a mãos, pés, cabeça, caneladas e arremesso da bola para fora da sede, “feito” de Arlindo, algo que gerou muitas risadas.

Aquecidos pela brincadeira com a bola, os quatro atores, Rê, Marco, César e Tili, tomaram seus lugares para iniciar um exercício de match improvisação orientado por Fernando. Em um círculo pequeno, foi definida uma pulsação com o estalar dos dedos, e pedido para que a cada dois estalos, um dos meninos falasse uma palavra que estivesse associada a última, dita pela pessoa a sua esquerda. Ex: bola, futebol, copa, natal, árvore, neve...

O exercício aos poucos foi sendo dominado, mas nem sempre se manteve a pulsação, e algumas vezes eram ditas palavras repetidas e que já tinham passado pelo repertório. Abriu-se mais o círculo. A pulsação é rápida, e o “jogador” precisa estar concentrado e não pensar tanto para dizer a palavra. Para quem estava observando de fora rendeu boas risadas, porque os meninos se divertiam com os erros, ao mesmo tempo que se desesperavam tentando manter a pulsação.

O workshop. A trupe se preparou, pegou os apetrechos de cena, figurinos, e começou o ensaio das quatro cenas que perpassam por diferentes idades do Marinho, do nascimento à busca pelo oceano. Fiquei muito feliz por assistir às cenas, que foram muito imagéticas, simbólicas e tiveram aquela pitada doce de humor dos Clowns. Terminado o ensaio, conversamos sobre as nossas impressões e, ditas as sugestões, repetiu-se novamente as cenas, em busca dos ajustes. Foi bem melhor, pois aos poucos os meninos vão dominando e vendo possibilidades de criação.

O último trabalho do dia foi a leitura do livro Capitão e a Sereia. O exercício pedido por Fernando foi contar a história do Marinho, com o livro nas mãos, mostrar ao público a história que o André Neves escreveu, sem colocar nesse momento as percepções do ator, apenas fazer a leitura de uma boa história.

Iniciada a leitura, Fernando fez algumas orientações, pedindo para César e Camille darem mais clareza e entendimento em algumas palavras, e para Marco e Renata, menos floreio. Também sugeriu que percebessem qual as palavras que precisavam ser enfatizadas, e que fizessem isso, olhando para o público. O que percebi vendo esse exercício foi que o olhar é uma cumplicidade do leitor com o público e, como Fernando disse, ele precisa ter o momento certo, e ser preciso, passar segurança. Outra coisa que me chamou atenção, foi perceber que enquanto os atores liam olhando para o livro, ia me dando tempo para imaginar a história, e quando olhavam no momento certo para o público, não quebrava o andamento da leitura. Porém, quando tinha quebra demais, com olhares, começava a me perder da história.

Nesse meio tempo, Ronaldo ou Ronélllldo (tristinho porque o São Paulo foi eliminado, rsrssr!) chegou a sede. Quando acabou a leitura, sentamos todos, e Fê fez uma proposta de “arrumação” da leitura, e conversou rapidinho sobre a afinação da luz.

A proposta foi fazer um quadrado com cadeiras, e que nas pontas, estivessem bancos em que os atores sentariam para ler a história. Entre outras questões, surge a dúvida: como terminar a leitura? E Tililim deu a ideia: fechamos o livro! Eu gostei, simples assim!

Depois da conversa, o ensaio da leitura! Uma música cantada pelos atores ao redor do piano, tocado por Marco, depois cada um segue para o seu lugar, e Renata apresenta o texto que irá ser lido.

Marco definiu, lendo o texto, em quais momentos haveria a utilização de sons. Todos foram para os seus lugares, e tiveram a ideia de colocar um aquário na frente de cada banco, um signo referente a história de Marinho. Assim, repetiram a leitura, e para casa ficou o trabalho de ler novamente o texto.

Durante as arrumações de cena, sentado numa cadeira, Marco brincando, tocando a escaleta, criou uma melodia muita bonita. Encantado com ela, já no finalzinho da noite, hora de ir para casa, ficou tocando para não esquecer, e César o acompanhou com o som de sua sanfona.

E aos poucos, cada um foi indo para sua casa, eu embalada pela melodia e – penso eu – os meninos inundados pelo oceano de possibilidades que se cria a cada dia!

2 comentários:

  1. Olá Paula!
    Seja muito bem vinda a nossa tripulação e desde já agradeço a sua participação que será importantissíma em registrar todo o processo de criação deste espetáculo.

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