sexta-feira, 9 de outubro de 2009

No Diário de Natal de hoje

Muito
Edição de sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Do barracão natalense a São Paulo

Grupo Clowns de Shakespeare inicia hoje temporada da peça O capitão e a sereia em São Paulo


Em cena, os atores César Ferrário, Renata Kaizer e Marcos França no espetáculo O capitão e sereia Foto: Maurício Cuca/Divulgação


O grupo de teatro potiguar mais bem sucedido e já referência no Sul nem sempre Maravilha - o Clowns de Shakespeare - apresenta hoje seu novo espetáculo O Capitão e a Sereia, no Teatro Sesi Vila Leopoldina, em São Paulo. A dramaturgia tem como livre inspiração o livro homônimo de André Neves, pernambucano radicado em Porto Alegre.

O livro que conta a história de Marinho, um sertanejo que nasceu e cresceu ouvindo histórias e canções sobre o mar, o que acabou gerando uma grande paixão pelo tema. Marinho então desenvolve uma exímia habilidade de contar histórias sobre o mar, e logo forma uma trupe de mambembes que sai pelo alto sertão a encantar as pessoas ao contar suas histórias marítimas. Certo dia, Marinho se cansa desta vida e abandona a trupe para finalmente conhecer o mar.

Na obra dos Clowns de Shakespeare, com dramaturgia assinada por Fernando Yamamoto e o grupo, o foco da narrativa é diferente: ao invés de contar a história do herói que parte em busca do seu sonho e da sua trajetória pessoal, o grupo conta a história da trupe que ficou. Através da espera pelo retorno do Capitão Marinho, a trupe constrói seu espetáculo, ou "desespetáculo", já que o espetáculo supostamente não acontece, pela ausência do protagonista da trupe.

A luta dos mambembes em fazer com que o público não perceba a situação delicada que eles estão vivendo é o fio condutor do espetáculo, mediado por um outro plano narrativo em que o grupo - os Clowns de Shakespeare, e não a trupe, batizada de Tropega, Mas Não Escorrega - comenta a situação dos seus personagens e estabelece um diálogo com a obra literária original.

O espetáculo tem a direção de Fernando Yamamoto, um dos fundadores do grupo, e conta no elenco com todos os atores dos Clowns: Camille Carvalho, César Ferrario, Marco França e Renata Kaiser.

O uso de uma pesquisa musical cuidadosa, característica marcante da estética do grupo, continua sendo uma tônica, conduzida pela direção musical de Marco França. Neste processo, porém,o trabalho musical contou com uma colaboração preciosa do pernambucano Helder Vasconcelos, ex-integrante do grupo Mestre Ambrósio, pesquisador de Cavalo-Marinho - manifestação tradicional que serviu de inspiração para o autor André Neves -, que assina a preparação corporal, num trabalho que foi ampliado para muito além do corpo, atingindo a música e a encenação do espetáculo.

Em Natal

O formato do processo de montagem também merece um destaque especial.Trabalhando desde o início de junho, o grupo tem realizado ensaios abertos todos os sábados no seu espaço, o Barracão Clowns. O evento foi batizado deBarracantes, e o público tem tido a oportunidade de acompanhar todo o material criado, desde os primeiros esboços da primeira semana de trabalho.

Os Barracantes sempre são finalizados por um bate-papo entre público e grupo. Este procedimento trouxe ao grupo a possibilidade de experimentar soluções, perceber como o pensamento que o espetáculo traz estava sendo refletido ou não na cena.

Vários interessados acabaramacompanhando todo o processo, semana a semana, e conhecendo mais proximamente como são realizados os procedimento criativos do grupo. Outra preocupação do grupo neste trabalho é o registro de cada etapa do processo. Além do registro em vídeo realizado pelo próprio grupo - que deve resultar em um documentário a ser lançado em 2010 -, os fotógrafos Maurício Rêgo e Pablo Pinheiro, parceiros do grupo há vários anos, têm registrado todas as atividades da montagem, chegando próximo a 5.000 cliques do processo.

O grupo também criou um blog (www.clowns.com.br/odiariodocapitao), atualizado diariamente durante todo o processo, com relatos, análises e depoimentos de todos os integrantes da equipe, no qual se pode acompanhar sob diferentes prismas as nuances desta montagem.

Clowns de Shakespeare e São Paulo

Contemplado pelo edital de montagens inéditas do SESI São Paulo, esta montagem e temporada de estreia consolida uma relação de extrema intimidade entre o grupo e a capital paulistana. Esta temporada será a décima passagem dos Clowns de Shakespeare pelo estado de São Paulo, sendo a terceira temporada na capital (as outras duas foram do espetáculo Muito Barulho por Quase Nada, no teatro SESC Anchieta, em 2005, e a temporada de repertório no TUSP, em 2007, que rendeu dois prêmios APCA e dois FEMSA/Coca-Cola ao grupo, pelo espetáculo Fábulas).

Dentre estas nove passagens por São Paulo, algumas ocupam um espaço de muita importância na história do grupo, como as duas temporada já citadas, a primeira edição da Mostra Latino-Americana da Cooperativa Paulista de Teatro e duas edições do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto.

Para os integrantes do grupo, esta temporada tem um sabor especial para os Clowns, já que pela primeira vez irá estrear um espetáculo longe de Natal, que só receberá O Capitão e a Sereia no final do primeiro semestre de 2010.


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