quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Neruda sempre ajuda

Todos

Eu talvez eu não sei, talvez não pude,

não fui, não vi, não estou:

― que é isto? E em que Junho, em que madeira

cresci até agora, continuarei crescendo?

Não cresci, não cresci, segui morrendo?

Eu repeti nas portas

o som do mar,

dos sinos,

eu perguntei por mim, com encantamento

(com ansiedade mais tarde),

com chocalho, com água,

com doçura,

sempre chegava tarde.

Já estava longe minha anterioridade,

já não me respondia eu a mim mesmo,

eu me havia ido muitas vezes.

Eu fui à próxima casa,

à próxima mulher,

a todas as partes

a perguntar por mim, por ti, por todos

e onde eu estava já não estavam,

tudo estava vazio

porque simplesmente não era hoje,

era amanhã.

Porque buscar em vão

em cada porta em que não existiremos

porque não chegamos ainda?

Assim foi como soube

que eu era exatamente como tu

e como todo mundo.
Pablo Neruda - Últimos poemas (O mar e os sinos)

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