sábado, 8 de agosto de 2009

Nadar sozinho é morrer na praia

O Barracantes de hoje não teve aquela tensão e nervosismo gostosos do primeiro Barracantes, mostrando o experimento do Márcio Marciano. Nem aquela clareza dialética que estamos buscando tanto, como aconteceu naquele dia.

Também não teve aquele domínio sobre o texto e tranquilidade sobre o estado dos atores que o João Lima nos proporcionou. Muito menos a energia tão boa da apresentação do palhaço dele (apesar de ter contado com a queridíssima presença dele).

Tampouco tivemos uma belíssima apresentação, como foi no dia do Espiral Brinquedo Meu, do "cão chupando manga" Helder Vasconcelos. E nem o público abarrotante daquele sábado mágico.

Neste sábado, no Barracantes, não conseguimos um chapéu tão estufado de dinheiro quanto os meninos do Facetas mereceram ao apresentar o seu divertido Ida ao Teatro.

E nem arrancar tantos risos e gargalhadas do nosso público quanto nossos parceiros do Tropa Trupe e os geniais Nil, Gena e Adelvane.

No entanto, pra mim, esse Barracantes foi o mais especial destes dois meses que estamos abrindo o Barracão para o público. Tivemos pouco mais de dez pessoas na plateia, fizemos a apresentação menos espetacular - no sentido estrito da palavra, de ser a apresentação com menos acabamento de espetáculo até agora - e, no entanto, algo muito forte aconteceu.

Pela primeira vez, apresentamos um "trecho" do espetáculo. Esse "trecho" vem entre aspas porque pode ser que nada do que foi apresentado tenha fôlego para chegar até o fim do processo, mas o exercício que fizemos - três, na realidade - é o ponto de partida de onde vamos chegar. Em outras palavras, mesmo que nada deste fragmento que mostramos esteja no espetáculo, seus filhos e netos com certeza estarão lá.

O formato que propusemos foi muito precioso, por isso tentarei explicá-lo. Tínhamos três materiais trabalhados durante a semana: uma espécie de prólogo levantado a partir de um texto escrito pelo Rafa Martins, um outro rascunho de prólogo feito por mim, inspirado na abertura do Henrique V, e uma cena física, sem texto, de entradas e saídas, com uma distante inspiração na técnica de clown, talvez influenciado pela onipresença da amada Adelvane Néia pela sede nessas últimas semanas.

Pois bem, com esse material em mãos, ontem, tentando amarrá-los de alguma forma para criar um sentido e apresentar hoje no Barracantes, entramos em parafuso, com a contribuição muito precisa do João Lima, que apareceu pela sede e problematizou questões essenciais para a cena. Levantamos possibilidades de costura, de cortes, de edições, e saímos do ensaio com uma sensação de impotência diante de tantas dificuldades. Quer dizer, eu saí, não vou estender essa sensação para os meninos, já que não sei se isso se replica neles.

Hoje, propus a eles que levássemos ao público três diferentes possibilidades de amarração, com uma roupagem clara de exercício, com direito a fala do diretor no início para explicar o que iria acontecer e uma condução minha de finalização e início de cada exercício. A coisa foi tão agradável, que me senti à vontade até mesmo, em um desses "intervalos", de dar algumas indicações de posicionamento para os atores antes de um dos reinícios.

Ao final, tivemos um bate-papo preciosíssimo! O público era uma mistura de atores e diretores com pessoas que não faziam teatro, e conseguimos criar um ambiente em que todos contribuíram sem aquele medo bobo de "falar besteira" ou "falar coisas óbvias". Todos estavam numa postura de contribuição ao nosso trabalho, falando o que achavam, sem medo de serem julgados já que, se alguém estivesse ali para ser julgado - o que também não era o caso -, seríamos nós!

Todos comentaram, fizeram perguntas, nós respondemos, nós perguntamos de volta, e tivemos pistas muito importantes sobre a compreensão, sobre o pensamento do espetáculo, sobre o que funciona, sobre o que não funciona, sobre o que cria ilusão quando não deve, ou não cria quando deve, enfim, acredito que conseguimos dissecar tudo o que foi apresentado, detalhe a detalhe, e confesso que saí muito bem, muito contente, diante de tantas limitações e dificuldades que foram apontadas sobre o nosso trabalho! Rsrs...

Ao final, já indo embora, o César comenta comigo uma pérola mais ou menos assim: "não consigo mais vislumbrar fazer um processo de montagem sem isso. Imagina como seria terrível passar esse tempo todo trancados, sozinhos!". Ferrim, endosso seu pensamento em número, gênero e grau!

Em tempo: daqui a exatos dois meses estaremos estreando!!!!!!!! Como diria aquele carro de som que passava todo dia (o dia todo) perto do nosso hotel em Currais Novos: UUUUUUUUIIIIIIIIIIII!!!!!!!!

5 comentários:

  1. Passando para dizer que um marinho a mais se junta para contar histórias.

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  2. Oi, Fernandíssimo! Estou um tanto inquieto. Preciso saber o que foi conversado, o que está sendo pensado no momento, certo? Por aqui, continuo com a cabeça no Capitão.

    E beijo grande a todos!

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  3. Olá, amigos! Passei para matar um poquinho das saudades e conferir o diário de bordo do capitão e fiquei muito feliz, curioso, extasiado... q processo bonito, galera! Então mando daqui um AXÉ e coragem, meu povo! Bjão! Juniovsky - A OUTRA (BA)

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  4. Vocês jamais haverão de nadar sozinhos. Estarei sempe com vocês. A propósito, maravilhosa experiência de dialogar com o público. Amei participar!!!

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  5. Opa! Presenças ilustres por aqui! Nosso "comentador oficial" está na área, Mr. Gustavo França! Juniovski, grande parceiro soteropolitano! E "um louco", amigo do André, pra fazer parte desse "bando de loucos" (não podia deixar de fazer esse trocadalho corinthiano, mesmo nessa fase... Rsrs...). Bem-vindos, comentem sempre!

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