quinta-feira, 30 de julho de 2009

Jucurutu

Nessa quinta, contamos com a presença do dramaturgo desse processo, Rafinha, que ficará conosco até a próxima semana. Fernando o situou um pouco sobre o que vem acontecendo no barracão e eu também falei sobre o exercício que Marco iria fazer hoje.

Marco retomou o exercício “momentos do capitão”. Ele espalhou instrumentos pela sala e passou instruções sobre o exercício para os meninos, pois como ele também é um jogador/ator, é importante que ele se sinta mais a vontade para experimentar e deixe mais de lado seu papel de condutor.

Os meninos foram percebendo o espaço e os instrumentos. Fê pediu que os atores trouxessem a corporeidade que cada instrumento oferecia e depois que o som do instrumento (mentalmente) sugerisse o movimento do corpo. Daí quando eles acharam um padrão interessante de movimentos, estabeleceram contato visual e dialogaram entre si.

Achei interessante perceber como o estímulo do som do instrumento e do formato do objeto trazem movimentos que às vezes se contrapõem e coincidem. Os meninos revisitaram alguns movimentos corporais, mas também conseguiram trazer movimentos que além de não ser cotidianos, traziam uma mudança no eixo do corpo que eu nem sempre tinha visto neles durante exercícios anteriores.

Depois que os meninos estabeleceram a relação, Fernando disse os 7 momentos do livro, um de cada vez e de modo aleatório, e os meninos narraram a história do Capitão. Eu, Fê, Gabi e Rafa, sentamos nos quatro cantos do tablado para assistir ao improviso.

César tem muita facilidade - ao meu ver - de contar a história com fluidez de palavras, trazendo muitas vezes estímulos bons para a criação da dramaturgia e a criação corporal não apenas dele, mas dos outros também, como a palavra que disse durante o jogo, “autista”, que mesmo não sendo uma boa palavra para a história que se quer contar, trouxe um estímulo muito criativo para os outros atores que estavam em cena.

Camille, durante o encontro da Adê experimentou ser uma “rapariga” que muitas vezes oscilou entre a menina e a mulher demonstrando insegurança, no entanto hoje ela trouxe durante a sua utilização do instrumento rói-rói uma maior ousadia, e eu acho que é por aí mesmo, pois mesmo que ela não se utilize disso na peça, é importante para o ator ampliar o seu repertório. Ela também explorou contar a história se arrastando no chão, e para mim foi bom ver uma outra maneira de usar o espaço, mesmo que isso induza a uma personificação do narrador.

No instante da narração da parte “Encontrando pares”, surgiu uma música bem interessante, com Marco na sanfona e os meninos dizendo expressões como: ali, aqui, olá. Também durante a narração de César, os meninos fizeram uma imagem bonita cenicamente, um de costas para o outro apontando, indicando algo.

Além disso, durante a narração de Marco, surgiram figuras bizarras da trupe “Meninos-Cactos de Jucurutu”: Rê, como uma mulher fruto de pescador e sereia, a mulher que nunca amou, Camille, como as gêmeas siamesas , a menina-cavalo marinho e César, como o homem chocalho.
César, na sua contação sobre a trupe, falou sobre as figuras, sobre elas serem bonitas e por isso serem solitárias... que elas se encontraram e depois que olharam no olho uma das outras, não quiseram se separar mais, pois encontraram a própria alma (Bom, pelo visto acho que ele já andou lendo Paulo Coelho. Rsrsr.... Brincadeirinha, César).

Depois de muito jogo, Fê falou pros meninos que tudo aquilo foi mais um número da trupe, e que eles teriam reunião administrativa. Eles se sentaram, tentaram alguns improvisos, mas não tiveram muito rendimento. Depois, Camille deu a notícia que Marinho foi embora e não viria para a reunião. Os meninos não acreditaram. César ainda brincou com Rê, cantando a música: Fui passear no bosque enquanto Marinho não vem... Em seguida chegou um telegrama de Marinho dizendo: fui embora. A partir daí, os meninos ficaram sem saber o que fazer, calados, sem chão. E Camille “perturbou” para que eles fizessem alguma coisa, pois pouco depois teria espetáculo. Marco chegou a tapar a boca dela para que ficasse calada. Depois disso, sem muita reação por parte dos meninos, o público (eu, Fê, Rafa e Gabi) começou a gritar e bater palma para que o espetáculo comecasse.

Eles pensaram em não apresentar, porque Marinho não estava presente, mas depois decidiram fazer alguma coisa, e apresentaram a história da Tempestade pois, segundo César, Shakespeare sempre funciona. Rsrs...

Na realidade, eles fizeram uma recriação shakespeariana bem livre. A história que eles contaram foi mais ou menos a seguinte: Próspero, que possuía poderes mágicos, tinha uma filha chamada Miranda. Numa viagem de navio, aconteceu uma tempestade e eles ficaram presos em uma ilha. Surge Ariel, e avista um navio próximo a ilha. Ariel consegue enxergar a tripulação de três homens, e ainda as suas idades e escolhas sexuais. Próspero então reconhece que os três homens são seus parentes, e que todos precisam morrer, pois fizeram alguma coisa de ruim com ele... Daí Próspero pergunta a sua filha maquiavélica uma idéia para “fuder com os cara”, mas esta não tem nenhuma, e seu pai reclama de ela ser uma “brochante”, e ela fala que não é o que as pessoas dizem. Assim, Ariel é a salvação! Ele joga uma bomba no navio e este vai se desfazendo, depois não sei como o navio ressurgiu pois eles o puxam com uma corda.... Foi quase isso, não lembro como terminou a história. Nesse meio tempo eles tentaram cantar para animar o público, que dormia e reclamava.

Quando terminou o exercício sentamos no chão e conversamos, pois em geral sempre surgem novidades boas e outras coisas que são necessárias reforçar ou mesmo conversar novamente para que não se percam. Fê falou sobre a importância de jogar a favor do improviso, dos meninos agirem positivamente. Falamos sobre a narração não ter juízo de valor, embora o grupo tenha seu ponto de vista, da relação que o grupo tem com o treinamento pré-expressivo, entre muitas outras coisas.

Hoje também lemos mais um pouco do blog! Ah! Só mais uma coisinha, pois já escrevi demais e sei que vai ser difícil alguém ler até o final.... César alguns dias atrás citou uma frase de Peter Brook durante uma de nossas conversas, eu não lembro bem como ele disse, mas era algo do tipo, o teatro se faz com inteligência, sentimento e corpo. Então façamos!

Um comentário:

  1. Eu li até o fim!
    =)
    É a única forma de estar aí vendo tudo: lendo aqui!..
    Até q eu pegue um busu e vá aí vê-los em ação..
    Beijo pra todos!

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