quarta-feira, 29 de julho de 2009

Abigobel é um pastor alemão

Nossa querida Adelvane conduziu o trabalho de hoje no barracão. Para começar o grupo fez a saudação ao sol que é uma sequência de movimentos do ioga. Fizemos também a postura da árvore e um exercício de prender a respiração e soltar. Tudo muito calmo diante do furacão que estava por vir.


Segundo Adelvane, a ioga proporciona concentração, equilíbrio, baixa a ansiedade, entre outras coisas. Eu concordo com ela, ao menos com relação a esse exercício, pois fiz essa sequência durante toda a oficina dela de iniciação ao clown na semana passada, e me sentia alongada, aquecida, concentrada e tranquila para o desenrolar da oficina.


Depois do ioga, os meninos deitaram no chão e iniciaram o treinamento pré-expressivo. Aos poucos a energia foi surgindo e Adê fazendo os comandos de acordo com o jogo entre eles. Ela pegou alguns instrumentos para que fossem um estímulo para a mudança corporal dos meninos. A princípio pareciam todos bichos, animais, ela começou a maltratar todos, puxando cabelo, batendo, Marco foi logo para o chão e ficou soltando uns sons de lamentação, daí todos maltrataram ele, e aos poucos ele foi reagindo, batendo quando conseguia nos outros. Empurraram comida na boca dele para que ele tocasse a sanfona, sujaram todo o chão, se bateram... Marco chegou a cuspir em Adê que também revidou. Cuspiu no chão. Uma nojeira só, mas que deu um novo estímulo para que o jogo crescesse.


Adê pegou alguns figurinos e foi vestindo em cada um, assim foram surgindo algumas figuras bem grotescas que se relacionavam entre si. Ainda no jogo e cada qual com uma exploração corporal diferente, criaram algumas figuras que a Adê ia direcionando. Inclusive a Adê havia pedido que Rê fosse a mãe do garotinho que Marco fazia, mas a Rê, ao que me parece não entendeu e se comportou como uma amiguinha dele, sendo que Marco havia entendido o comando da Adê e se comportou como se Rê fosse a mãe.


Algumas figuras criadas: Marco aleijado e menino serelepe, César velho e travesti, Renata velha do garfo e garotinha, Camille madame e rapariga. Ah! No meio do jogo o garotinho escutou o carrinho de picóle (de verdade) que passava na rua, ele gritou que queria um e a travesti correu levantou o portão e chamou o picoleiro, que mesmo vendo todas aqueles figuras estranhas, fantasiadas, não demonstrou nenhum preconceito, nem estranhamento, vendeu como se as figuras fossem pessoas comuns.


Fim de picolés, os meninos fizeram uma roda e cada um cantou um trecho de uma música, depois a Adê pediu que eles guardassem o trabalho e em seguida Fê falou para os meninos criarem duas cenas a partir do material criado. E enquanto os meninos se preparavam, quem estava de fora foi varrer e passar o pano no tablado que estava um reboliço só.


Bem, na primeira cena os meninos entraram como uma trupe cantando, tocando e cada um deles apresentou um componente enquanto os outros ficavam congelados. Abigobel cospidor de fogo e nojeiras, Velha do garfo lançadora de garfos que havia sofrido abuso quando criança durante as refeições, Teobaldo de codinome Brigite, engolidora de varas, Pirlinpimpim bailarina do circo, equilisbrista que não sabia sua origem. Os meninos refizeram de novo a cena a pedido de Fê, dessa vez com mais energia enquanto estavam congelados e explorando as vozes das personagens.


Na segunda cena, os meninos também entraram como uma trupe, Marco tocando a sanfona, os meninos foram aumentando a farra entre eles, até que o som do mar (tocado por Adê) foi aparecendo e eles ficaram enjoados - chegou ao ponto de a Rê vômitar de verdade em cena - e depois o som foi sumindo e eles voltando a cantar.


Após as duas cenas tivemos uma conversa sobre o trabalho. Comentou-se que hoje os meninos conseguiram trazer para as cenas o que havia sido criado sem perder a energia do exercício; que Camille oscilava entre a menina e a mulher (rapariga), que a construçao da velha do garfo (Rê) não era uma velha estereotipada e isso era bom, que Abigobel era um pastor alemão pois comia apenas uma vez por dia, e por fim, Adê fez alguns pedidos aos meninos, para se cuidarem fisicamente, para não terem dúvidas, para um potencializar o outro, para se jogarem também na busca individual e para manterem os laços de trabalho com ela.

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