sábado, 13 de junho de 2009

Fechamento Marciano

Dia de ajustes finais do trabalho com o Marciano para a apresentação de amanhã. Ainda assim, foi um dia de criação e muitas reflexões.

Cheguei mais tarde, por não ter conseguido almoçar a tempo. Deixei o Márcio no Barracão e fui comer alguma coisa, e nesse meio tempo fui incumbido pela Rê de comprar fitas para câmera de vídeo, que estão sendo usadas a toque de caixa...

Enfim, chegando no Barracão, encontro mais um integrante da nau que aportou pela primeira vez, nosso grande produtor Rafael Telles. Apesar de uma passagem rápida, já que ele está em pleno vapor na produção do tal auto de Assu - ah, esses autos... -, foi um papo muito bom para planejarmos a participação dele no trabalho, enquanto os meninos ensaiavam com o Márcio no tablado. Trabalhar com o Rafa é muito bom, além da cumplicidade de trabalho que já estabelecemos com ele em várias parcerias nos últimos anos, ele é um tipo de produtor que, ao invés de trazer problemas, traz solução. Ou melhor, soluções, alternativas, pensa a criação artística junto com a gente. E, agora, poderemos vivenciar um processo de montagem "de verdade" com ele, e não os trabalhos encomendados que ele sempre trabalhou conosco. Enfim, bem-vindo, bravo marinheiro Telles!

Além dele, já passaram pelo Barracão, nesses cinco dias de trabalho, o Márcio, a Gabriela, o Pablo, o Ronaldo, além da ilustre visita do Jorge Clésio. Bastante movimentação na sede nessa primeira semana, o que é excelente!

Bom, depois disso, nos dividimos em ajustes técnicos (eu e o Ronaldo tentando ajustar/consertar os aparelhos de som, colocando pitão na parede, etc.) e trabalho de cena. Além das limpezas e dos últimos ajustes de "marronzinho", como o Márcio gosta de chamar as indicações de trânsito de cena - para quem não é familiar ao termo, marronzinho é o apelido dos guardas de trânsito de SP -, também criamos alguns pequenos fragmentos que faltavam ser trabalhados, como a transição do público de cara triste para a alegria, após a intervenção do Marinho.

Demos uma passadona no que vai ser apresentado amanhã que, a propósito, ficou com quase 40 minutos! Criamos um espetáculo em uma semana! Rsrs... E ficou muito bacana. Lógico que não é um espetáculo, é um exercício, mas conseguimos chegar a um resultado de tanta dignidade, um jogo tão tranquilo e curtido em cena, que acredito que mostra uma maturidade enorme do grupo, nesses quase três anos sem montagem! É incrível lembrar que essa é apenas a primeira semana de processo! Como escrevi ontem, a cumplicidade de trabalho com o Márcio é também impressionante.

Disso tudo, ando muito curioso com a reação do público amanhã. Não naquela ansiedade de saber se vão gostar ou não, mas sim em saber como vai funcionar esse espaço de retorno do público, ando apostando muito nesse espaço aberto durante todo o processo. Lembrei muito da entrevista que o Lindolfo, querido amigo do Grupo Imbuaça, de Aracaju, me deu há alguns dias, pela minha pesquisa de mapeamento dos grupos de teatro do Nordeste que estou desenvolvendo. Quando perguntei sobre qual o grau de interferência da preocupação com o público nos processos de montagem deles - pergunta sempre muito controversa nas 33 entrevistas que fiz até agora -, ele respondeu brilhantemente, algo mais ou menos assim: "a gente não se preocupa com o público, o público cria junto com a gente". De todas as respostas que tive dos grupos nordestinos, essa foi a que mais ecoou na minha cabeça. Agora, me vejo prestes a apresentar um primeiro experimento deste processo que inicia, de muitos que virão. Me instiga muito saber como - ou se - isso vai contribuir para a nossa criação.

Por falar nisso, o Márcio sugeriu uma excelente ideia - ô, dificuldade em lembrar de escrever ideia sem acento!!!! - para estes ensaios abertos: criar um espaço no Barracão com garrafas, papéis e canetas, para as pessoas deixarem suas "mensagens na garrafa" sobre o trabalho, com sugestões, impressões, ideias, etc. Amanhã já colocaremos em prática!

Por fim, ao final do ensaio, quando comentávamos um pouco sobre como estava o trabalho, tentando responder às ansiedades naturais do atores ("como tá?", "o que vocês estão achando?", "tá legal?"), vimos o chão ainda riscado com o barco que os meninos desenham com giz, coletivamente. Comentamos muito sobre como é legal essa coisa de ir criando o piso onde a cena acontece, um tanto dogville, mas sob uma outra ideia. Pensamos na cartografia náutica, em especial os mapas de mares antigos, que poderiam ser uma excelente superfície para o espetáculo. Recorremos, também, ao André (como sempre), vendo os esqueletos afundados na terra, parecendo meio um boi, meio uma baleia, pensamos nestes nichos com pedras, ou com objetos "enterrados", enfim, uma conversa bem informal sobre a ambiência cênica, que servirá para desenvolvermos com a Wanda e a Gabriela mais pra frente.

Também conversamos bastante sobre essa questão das apresentações abertas durante o processo, da importância em eliminar esse mito do encontro com o público, do processo aberto. Então, amanhã vamos nos divertir!

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