segunda-feira, 8 de junho de 2009

Agora é oficial!

08.06.09

Segunda especial. Chegada do Márcio Marciano, parceiro de trabalhos, idéias e lutas e do bom filho japonês, que após quase dois meses envolvido com o projeto Cartografias do Nordeste, à casa torna. Sem falar, é claro, do tão esperado início oficial do processo do Capitão. A demanda de assuntos a serem discutidos e colocados em dia em meio a tantas coisas que aconteceram nesse período, mostra que temos muito trabalho pela frente. Percebemos a necessidade de aumentarmos a nossa carga horária de trabalho daqui pra frente pra que consigamos dar conta do treinamento com o Sávio, do trabalho administrativo e do artístico, que envolve os ensaios da montagem. Vamos negociando essa ampliação do tempo à medida da urgência e necessidade a cada semana, combinados a finalização do semestre do inglês da “crianççççça” (Tilila).

É muito bom ver a tranquilidade com que Márcio conduz o seu trabalho. Apesar de nossa aproximação na Lapada, na montagem do Quebra-Quilos, em que eu e Fernando trabalhamos como colaboradores do processo, nos poucos e importantíssimos dois dias de trabalho nas vésperas da estréia do Casamento, só agora conseguimos de fato realizar essa parceria não só no início, mas abrindo as atividades dessa montagem.

Começamos conversando sobre o que o universo do texto tem nos despertado como criadores, pensadores. Uma das grandes pérolas em ter o Márcio conosco é a sua experiência e pesquisa ligadas a dramaturgia sob a perspectiva de um olhar dialético. Sobretudo nesse momento em que começamos um processo onde o texto será construído de maneira autoral, ainda que tendo como base, ponto de partida o livro O Capitão e a Sereia, sua contribuição como dramaturgo junto a Rafael será fundamental.

Aquários, tecidos, bacias, varas de pescar, girassóis, iscas, bóias e anzóis. Estímulos variados para que fizéssemos uma aproximação com as imagens propostas pelo André (Neves). Aproximar, explorar, compreender para depois nos afastarmos disso. A riqueza das ilustrações nos dá muito facilmente um caminho claro em relação a cenografia do espetáculo. No entanto é importante que dialoguemos com isso de maneira questionadora, inquieta, para que possamos ir mais adiante nas camadas da cebola. Descobrir a essência que nos interessa. É preciso ir à busca do que não está garantido. Ou seja, praticamente tudo. Busquemos então!

Depois de fazermos um exercício que contávamos dois a dois algo que tenhamos vivido na infância relacionado ao tema “mar”, trocamos de duplas e contamos a história do Capitão Marinho, o herói da nossa história. É evidente a forma como nos relacionamos contando histórias a partir de uma vivência pessoal e de uma outra que nos apropriamos para fazê-lo. Muda tudo! A intenção, a forma de falar, a impostação, o olhar. Não deveria, mas é assim (ou deveria?). Bom, só sei que foi assim. É aí onde começa a nossa peleja com o tal ator-narrador. A linha tênue que me derruba o tempo inteiro entre naturalidade, envolvimento, distanciamento e teatralização da forma. Ufa! Difícil esse troço. É...e é só o começo. (Oba! É só o começo!)

No exercício seguinte, fizemos uma exploração individual pelo espaço onde traríamos a corporeidade e a fala de alguém próximo, que conseguíssemos reproduzir através da mímese resgatada a partir da nossa memória. Essa “figura” seria um dos integrantes da trupe do Marinho e que o apresentaria para todos como seu grande amigo. Escolhi o maestro Ernani, para trazê-lo pra perto, entre nós. Surgiram tipos muito interessantes. Pensamos e discutimos a partir desse exercício sobre as vias diversas que podemos optar na construção dessa história. Na personificação do Capitão estar presente em todos os contadores, integrantes da trupe e não exclusivamente na figura de um único ator. Na dramaturgia ser criada a partir da ausência do Cap. Marinho, o que daria margem para um novo universo de possibilidades. São muitas coisas! A cabeça anda a mil!! É hora de acelerar. O freio? Ahhh, tá nas mãos e pés do Japa. Bom, mas voltando, com algumas regras e indicações de Marciano (Márcio) fizemos uma improvisação onde, no primeiro momento, trazer esses tipos que exploramos anteriormente para se relacionarem diante de uma situação de conflito, nos colocou em estado de exagero das formas tornando a cena criada, apesar de divertida (pra variar), carregada demais. Repetimos uma segunda vez com o cuidado de internalizar mais o conteúdo de apresentação das personagens para humanizar mais as relações entre todos. Ainda com dificuldades de realizar bem isso, caminhamos melhor dessa vez. É a danada da prática se manifestando quando tudo parece se fazer muito claro na cabeça da gente. Tsc tsc tsc.

Após a pausa para o café, uvas, bolachas e ligações, nos dividimos novamente em duplas (eu e Tilila, Cesar e Renata) para traduzirmos em cena, onde a fala não seria obrigatória, a representação de Marinho quando adulto e como criança a partir das ilustrações. O mais interessante desse exercício é que acabamos optando, ambas as duplas, por uma não-reprodução da imagem sugerida no livro. Mas sim por um olhar mais ligado à nossa subjetividade diante da obra. Acho isso muito bom. É um exemplo claro e sem a preocupação direta de ter isso como uma regra, da busca pelo que está além das ilustrações, uma vez que nesse exercício poderíamos ter recorrido aos elementos mais diretamente para reforçar o que está presente no livro.

César e Renata colocaram em cena o nascimento de Marinho após seis partos seguidos de girassóis que representavam as meninas em ciclos de nove meses entre um e outro. Quebrando a regra dos “girassóis”, surge Marinho, o primeiro filho varão da família, representado belamente por um pequenino aquário com um peixinho dentro. Calma! Peixinho de borracha que é usado como isca. Os Clowns garantem que todos os animais usados no processo não sofrerão nenhum tipo de violência. Exceto a espécie desse que vos escreve. Foi ótimo ver a cara de asco e surpresa que Arlindo fez ao ver depois o peixinho boiando no aquário. Ele achou q fosse de verdade. Imagina... Apesar da comicidade presente na cena que eles fizeram, acho q conseguiram um bom equilíbrio com o lirismo das imagens apresentadas. Um misto de grotesco, beleza e fantástico.

Já nós criamos uma cena tendo como base uma aparente pesca no momento em que o peixe é fisgado ao som de acordes na sanfona dando um clima de tensão. A revelação do bom-bom “pescado” e não de um peixe como seria esperado, mostra que se tratava de uma pescaria comum nas brincadeiras de períodos juninos, onde Marinho não era o pescador, mas sim, o dono daquela barraca, subvertendo a lógica construída até aquele momento.

Foi impressionante perceber a quantidade de coisas despertadas ao longo desse primeiro dia de trabalho. É bom demais estar de volta a um processo depois de tanto tempo. Somos outros. O tempo visivelmente continuou atuando sobre nós. É o bom de reconhecer o envelhecer ainda na juventude. É o que nos resta. Bem-vindos!

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