segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eu fico todo arrepiado, por dentro!!

Ao longo da sua trajetória no campo da iluminação cênica o iluminador descobre que deve manter uma certa neutralidade crítica em relação às obras cênicas. Nem sempre iluminamos espetáculos que correspondam ao nosso gosto estético, ou que preencham todas as nossas convicções enquanto artista-criador. Desta forma, aprendemos a analisar a construção dos espetáculos pelo olhar do outro, e não pelo nosso próprio, e nele encontrar parâmetros para concretizar cenicamente aquilo que se delineia esteticamente para cada obra teatral.

Podemos considerar, portanto, que o iluminador é um artista privilegiado, pois essa relação estabelecida com o olhar do outro sempre nos indica, e nos faz vivenciar novas formas de se ver e, por conseguinte, de se apaixonar por um espetáculo. Contudo, nosso espírito deve estar aberto e liberto de amarras que nos impeçam enxergar os caminhos apontados, algo que só a experiência aprimora ao longo dos anos.

Confesso que o espetáculo “O Capitão e a Sereia” é um espetáculo que não me arrebatou de início, e o pior, custava a enxergar os caminhos apontados pelos olhares dos integrantes do grupo. O silêncio foi à tática adotada em grande parte do processo criativo, fato que gerou um certo mal estar, a ponto de muitas vezes ser questionado pela minha ausência. Talvez, o efeito da saída de alguns dos integrantes do grupo tenha recaído sobre mim, que acompanho o Clowns de Shakespeare desde sua fundação, um ano depois do acontecido!

Cheguei o viver o dilema de não ser o profissional mais adequado para criar a luz do espetáculo, mas a angústia de decepcionar o grupo em um momento tão delicado de sua existência era ainda maior ainda. O que fazer? Agarrei-me firmemente naquilo que o processo me mostrava, não propunha muitas idéias, mas tentava, na medida do possível, fazer uma síntese daquilo que os ensaios de criação tão sublimemente me apontavam, afinal processos ricos são pratos cheios para qualquer criador cênico. Estava tudo lá, apenas precisava organizar o material levantado nas cenas improvisadas e dar uma unidade que correspondesse à totalidade da obra cênica.

Com o tempo, o tão almejado o olhar do outro foi me contaminando e o caminho finalmente materializou-se aos meus olhos, começava, já perto da estréia, a ter o mesmo entusiasmo de antes, pois estava apaixonado pelo espetáculo e pleno de novo! Nem mesmo a altura do teatro me fez “esmorecer” (olha aí Marco, aprendi com você, rsrsrsrs), é bem verdade que fiz um certo dramazinho (mania que um dia hei de conseguir solucionar), mas isso não faz mal a ninguém, afinal não seria eu, não é mesmo meninos?

O resultado da iluminação cênica, de certa forma, correspondeu a todos os experimentos realizados no Barracão Clowns, logicamente com uma maior sofisticação, já que os equipamentos que encontramos no Sesi Vila Leopoldina eram mais numerosos e de melhor qualidade que aqueles que dispomos durante o processo criativo. Hoje, reconheço que a obra “O Capitão e Sereia” é a mais madura que o grupo Clowns de Shakespeare já fizera, e de que a luz do espetáculo conseguiu ficar a altura de tão digno espetáculo, fazendo-me até mesmo ficar, como diria o grande filósofo Curió, “TODO ARREPIADO, POR DENTRO!”.

2 comentários:

  1. Que lindo o desnudar da alma do Ronaldo, com todas as suas impressões, angústias e experiências. Usou de sabedoria e soube calar quando foi preciso. Ele, todo arrepiado, por dentro; nós, emocionados, por inteiro.

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  2. Que lindo texto Grande Rona!!!
    Um bom revelar.
    Viva todos!!
    É no que dar, acreditar e trabalhar.
    Beijo pra todo mundo do grupo e pra tu também Rona.

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