quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Balai


"Depois da tempestade vem a calmaria". Estaria sendo injusto, ou até imprudente em afirmar que a calmaria aportou por essas bandas de cá. Mas cometeria os mesmos pecados em negar que agora o nosso barco segue um rumo firme com o vento ao nosso favor. As incertezas, inseguranças e principalmente, a falta de habilidade num processo em que, pela primeira vez trabalhamos uma dramaturgia própria com base numa obra literária, nos colocaram "às vezes errando caminhos e ficando à deriva", mas nunca a ver navios. Ou seria, com navios sempre à vista? "Terra a vista!!!" Aos poucos começo a enxergar melhor a cara do nosso espetáculo. Começa a ganhar forma, cor, cheiros, corpo. O texto, mesmo que ainda sem estar definido, nos dá uma segurança maior nesse estágio que estamos. Vivemos um vale-tudo, onde tudo era permitido ao levantar ideias, cenas, improvisações de forma livre durante os meses de junho e julho. Incrível!! E veio agosto (mês do desgosto, dizem) e foi chegada a hora de começarmos a colocar os limites do nosso curral. Tcharam!! Eis a questão. O que colocar, como fazê-lo? Será que aquilo que queremos dizer está aqui, nas entrelinhas? Ou de forma até mais objetiva? Eu sou um ator dos Clowns ou sou um ator da Trupe agora? Tá claro isso? Putz! E aquele material criado, tão legal, onde entra? Quer dizer, entra? E se formos por aqui e não por ali? Ahhhhhhhhhhhh!!! O mestre Márcio Marciano, depois do susto que nos deu, foi (como sempre) imprescindível nesse momento de virada. Suas palavras confortantes de que não temos o que temer, só acreditar no que já temos construído até aqui, nos tranquilizaram muito. O jogo não está ganho. Sabemos disso. Mas a estratégia de como jogar, essa sim está nas nossas mãos.

Os Barracantes têm sido muito importantes na construção de um diálogo mais direto com o que temos levantado de ideias com o público. Temos nos deparado, através desse formato de baté-papo pós apresentação, com um público ativo, crítico e mais do que pensante (que acreditamos ser sempre assim), falante. Diante de tantas angústias e questões que são inerentes num processo de montagem de um espetáculo, imaginamos como seria tão mais sofrido carregar tudo isso até o peso da estreia. E longe de casa então!?! Sim, esses "amistosos" jogados até a véspera de nossa viagem para Sampa, nos colocam em forma para a temporada que se aproxima e ameniza as tensões até lá.

Daqui a exatos trinta dias, faremos o nosso último Barracantes antes de embarcarmos. Barracantes com gosto de estreia. Um ensaio com direito a tudo! Desde já, o frio na barriga e os arrepios com descarga de adrenalina que percorrem todo o meu espinhaço, habitam meu frágil corpinho.

Ontem começamos a explorar a outra metade do livro, que batizamos de páginas azuis. É o momento que Marinho segue em busca do seu sonho de conhecer o mar, deixando a trupe para trás. É a retomada do ponto em que finalizamos através da contação feita por cada ator para uma parte do público, dividido em quatro partes. Havia conversado com Fernando sobre a ideia de desenvolvermos esse momento a partir do exercício com os instrumentos no chão, já relatado em outros posts anteriores e que ontem, finalmente, foi batizado de "Exercício do Balai". Esse formato de exercício tem se mostrado muito potente com ricas possibilidades de explorações corporais, musicais e dramatúrgicas. E mais do que isso, temos nos apropriado e aprendido a jogar bem com esse caminho cheio de estímulos. É muito gostoso de fazê-lo. Tivemos a oportunidade de experimentá-lo já de diversas maneiras e com parceiros como: Danúbio, Latão e Helder. Ontem chegamos a ficar praticamente duas horas ininterruptas nesse jogo. Muita coisa interessante surgiu. Um mergulho muito intenso. Depois de conversarmos em duplas e propormos um roteiro para essa cena, a partir do que surgiu no exercício de ontem, ou até recorrendo a outros materiais levantados em dias anteriores, parece que teremos uma cena muito interessante. Tá bom, eu sei o risco que corro dizendo isso, mas...vai ficar lindo, do caralho!!! Pronto, disse. De tudo isso, o que mais tem me revelado nesse processo é a forma como temos encontrado juntos de compartilharmos o conhecimento. É claro como tem se dado a apropriação da criação musical por todos. E como isso tem sido rico para nossa pesquisa. Uma outra coisa que destaco é a maneira que tenho encontrado de conduzir o trabalho da direção musical como um ator que se deixa jogar mais livremente, sem o cuidado prévio do acabamento. Percebi que sou um diretor musical de dentro da cena. Pode parecer óbvio pra quem está de fora. Mas ter a consciência disso é novo pra mim. Tô muito feliz.

2 comentários:

  1. Jogar fora de casa é mais emocionante. Mas, no final, a conquista do campeonato é certa, mano velho!!!

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  2. criar coisas lindas e não usar não é necessariamente tornar inútil o trabalho dispendido, né? é o que acontece na montagem do cinema. dói no pai, é um dilema danado, é a escolha de sofia! mas o que foi construído não se perde, será parte do que vem depois, de uma maneira ou de outra; é caminho, é aprendizado. estou errada? não creio. confio nesse trabalho e tou doida pra ver o que vai surgir daí! beijos em todos e até mês que vem

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