segunda-feira, 20 de julho de 2009

Clube das Bolinhas

20.07.09

Depois de chegar um pouco atrasado acompanhando Renata que resolvia questões de produção ligadas as apresentações dos parceiros do Latão que estão aqui essa semana, cheguei ao Barracão e encontrei o companheiro e diretor musical Danúbio já alongando-se em nosso tablado. Tablado mais do que batizado nesses últimos dias de trabalho e que agora tem recebido o suor e a ralação da mestra querida, Adelvane. Com Fernando em São Paulo ainda, depois de nossa breve aparição com o Fábulas no SESC Pompéia, com a ausência da Paulinha e com o pouco que sobrou de Camille e Cesar pós-oficina da Adê, começamos, finalmente, o trabalho com o Danúbio.

Não havíamos combinado previamente o que faríamos. Nos colocamos na idéia de trocarmos exercícios, jogos, formas de trocarmos sem grandes pretensões. Simplesmente brincarmos juntos. E assim aconteceu. Eis que nos aparece as bolinhas do Ernani. Ok, eu explico. Quando começamos um trabalho de aproximação no processo do Casamento, Ernani iniciou os exercícios usando umas bolinhas de tênis que o acompanham sempre em suas oficinas. É uma forma que ele usa de materializar a pulsação, à medida que marcamos o andamento “agarrando” as bolinhas no ar. É o pulso inteiramente palpável, literalmente. Muito simples e eficiente. De uma forma também muito simples, porém longe de ser simplória, Danúbio nos conduziu num caminho muito interessante e complementar em relação ao que estamos buscando nesse processo. É muito legal perceber como esse trabalho com as bolinhas nos coloca num envolvimento corporal e claramente visível entre a relação do tempo e do espaço na música. Mais uma evidente possibilidade forte que reforça o nosso fazer musical mais envolvido com o corpo. Como regra, tínhamos três possibilidades de criarmos células rítmicas que seriam repetidas coletivamente : usando o som dos pés no chão (traduzido na onomatopéia “TUM”), jogando a bolinha no chão (“TÊ”) e batendo palma (“TA”). Uma maneira muito legal de decupar, compartimentar e entender passo a passo a construção rítmica de uma célula musical gerada a partir de partes corporais. Um exemplo feliz de um resultado sonoro complexo a partir de um caminho simples. É, meu caro Danúbio, nesse tempo de escassez de interlocuções sobre esse assunto que tanto me inquieta e me fascina, não terei o menor pudor em “roubar” suas bolinhas do Ernani. Rsrsrs.

Depois de uma rápida água, retomamos o nosso exercício dos instrumentos no chão que descrevi no post “TEMPESTADE”, dias atrás. E não demorou nada pra que Danúbio se integrasse a nós nesse jogo. Esse exercício, feito hoje pela segunda vez, tem se mostrado muito rico nas possibilidades de caminhos apontados com as sonoridades que temos explorado. Cada momento é muito variado e distinto, o que mostra a importância de um registro de alguém que esteja externo ao jogo. Fernando e Paulinha fizeram muita falta hoje. Foi um jogo diferente, mas não menos curtido. Esse jogo tem despertado uma grande potência cênica na relação da música como agente criador e voz autônoma no processo. Foi bom refazer e perceber que não existe limites para usá-lo nesse momento. Será usado outras vezes. Inclusive amanhã, já que enquanto fazíamos me veio uma idéia que acho que pode ser útil na compreensão de uma dramaturgia mais palpável, pelo menos por enquanto, ou como um dos pontos de partida agora. Depois escreveremos aqui como isso se deu. Até lá.

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