quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Segundas impressões

A palavra principal foi imaginação, com citações de vários autores e até do próprio Shakespeare para equilibrar a emoção da platéia. Depois disso, fiquei pensando no imaginar e na minha condição de criador.
Ao assistir o espetaculo com entusiasmo mas sem expectativas do que iria encontrar, descobri algo novo que ainda não sei explicar. Eu estava de mente aberta, limpo, entregue ao momento. E vi, com meus próprios olhos, coisas que me esqueci de escrever e ilustrar, mas eram partes importantes do meu livro. Uma criação que estava dentro do meu imaginário e que só a sensibilidade de outros artistas pode tocar.
Bem no início, lá atrás. A história de “O Capitão e a Sereia” minou em mim com força total. Era um olho d’água aberto escorrendo para encher um mar em minha cabeça. Só não percebi, mais uma vez, que minha criação poderia extrapolar a função comunicativa do contar e romper o imaginário do leitor para ganhar força física e se materializar no fazer teatral.
Repletos de criatividade.
Sim, os atores leitores tomaram o livro para si e foram até as profundezas de um mar sem fim. Lá estavam todos os personagens escondidos, todas as cores camufladas, todos os sons abafados pelo passar desatento das paginas que nós, leitores comuns, às vezes esquecemos de escutar.
Mas não me senti naufrago. Ao ouvir minhas palavras na boca de quem sabe pronunciá-las tão bem, me reconheci. Meus olhos boiaram por diversas vezes. Arrepiei-me. Mas calafrios no calor pode ser brisa na praia. Não era miragem. Eu estava em terra firme acreditando em tudo que via.
Não tenho muita propriedade para falar sobre o fazer teatral. Mas sei sentir.
Quero dizer mais sobre essa experiência. Só preciso refantasiar minhas idéias e destrinchar esses caminhos entre os sentimentos que insisto em procurar no meu trabalho e o brilho que o livro encontra em cada olhar.
Afinal, um livro aberto pode muito mais.

André Neves. Publicado também no blog Confabulando imagens.

7 comentários:

  1. Obrigada, André, pelas palavras e imagens mareantes que tanto inspiraram os Clowns de Shakespeare e que, para minha alegria, me levaram a embarcar na materialização cênica do espetáculo homônimo. Obrigada, Clowns, pela energia, pelo ritmo, pela harmonia, pela construção, pela desconstrução, pela luz, pelas cores, pelo talento e pelo mar...

    ResponderExcluir
  2. No mar dos Clowns, ninguém se afoga... a não ser de alegria e emoção.

    ResponderExcluir
  3. que lindos os comentarios de andré.
    que lindas as fotos, o sucesso da peça.
    mesmo não estando ai, estou ai.
    lendo o diario, lendo o diario, acompanhando as renadas nessa marzão de meu deus.
    com amor, ritinha.

    ResponderExcluir
  4. Vixe!

    Escrevi um comentário tão gigante aqui que acho que ele foi engolido pelo Blogspot. :) Então, recomecemos.

    Mas caramba, pessoal! Que maravilha de peça! Conheci vocês quando "Muito Barulho" veio pra São Paulo pela primeira vez - aliás, por causa dela, comecei a fazer teatro e tou aí até hoje :) - e não parei mais de seguí-los, virtualmente ou nos palcos em que vocês estiverem. Acho que até posso me considerar uma fã.

    Uma fã de um trabalho tão bonito, tão inspirado, tão...!

    "O Capitão e a Sereia" foi maravilhoso. Ri demais, chorei um cadim e realmente não acreditei no que meus olhos viam quando Peixe Grande apareceu na telinha. Foi como se um buraco negro estivesse aberto na minha cabeça desde então. Eu poderia esperar qualquer coisa - as mais maravilhosas, as mais bonitas - depois daquele vídeo. E não me decepcionei em nenhum momento. As coisas lindas vieram, com ainda mais força.

    Sinto até que participei da peça. Votei para que aparecesse o Capitão e encarnei, por um minuto ou menos, o próprio Marinho. Ouvi histórias, lembrei de pessoas e tive vontade de sair pelo mundo acreditando nas minhas paixões e contando histórias.

    Muito obrigada por essa peça, meninos, e por esse texto, André. Tô até me sentindo íntima, depois de um comentário tão grande como esse. Mas não podia deixar de falar o quanto a peça de vocês me comoveu. Muito obrigada por me fazer voltar a acreditar que o teatro é FEITO de criatividade, paixão e muito, muito talento, talento que transborda e bate na gente.

    "Não tenho muita propriedade para falar sobre o fazer teatral. Mas sei sentir", disse o autor do post. Concordo, recordo e cito, agora. Minha experiência nos palcos não é mais do que engatinhar, mas nem mesmo essas palavras todas aqui podem dar uma amostrinha do que eu senti vendo vocês. E foi jóia ter sentido. De verdade.

    Mal vejo a hora de vocês voltarem. :)
    Mas acho que sou eu que vou voltar antes ao Sesi!
    Não se demorem como o Capitão, por favor!

    Beijos a todos,
    Cláudia

    ResponderExcluir
  5. Nossa, Cláudia, você me tocou com seu comentário. Ainda mais hoje, ainda mais agora, que li logo após ter escrito esse post aí de cima... Te esperamos de volta no SESI! Beijo!

    ResponderExcluir