sexta-feira, 31 de julho de 2009

Continua...

Tivemos um dia mais curto no barracão porque alguns dos meninos precisaram sair mais cedo. Então, Fê pediu que eles refizessem dois workshops, uma cena cantada a partir da música “Seja Firme, Capitão” e outra que tinha a contação dos pescadores.


Eles ensaiaram a música algumas vezes e apresentaram dificuldades em lembrar a letra e acertar o tom da música. Terminado esse ensaio, Fernando mudou de ideia, abandonou o plano inicial de fazer a cena dos pesacadores, e comandou o restante do trabalho pedindo que os meninos andassem pelo espaço e acessassem a pulsação. Os meninos foram explorando algumas corporeidades já criadas em outros momentos e, em seguida, Fê pediu que eles dançassem para o público e explorassem isolar a pulsação do baião em algumas partes do corpo, usando essa possibilidade caso achassem algo interessante.


A partir disso, cada um dos atores buscou uma figura festiva da trupe de Marinho, explorando formas de representação desses personagens. Aos poucos, eles foram narrando algumas frases soltas e escolheram o instrumento preferido das figuras representadas trazendo isso para o corpo e voz; depois, buscaram a relação entre si, contando frases aleatórias uns para os outros. Por último, Fê colocou alguns instrumentos no chão para que os meninos pegassem, e então eles convidaram as pessoas para sentarem no círculo e assistirem ao espetáculo “mais fantástico do mundo”.


Depois do ensaio fizemos a roda de conversa, como sempre! Eu fiz algumas anotações de coisas que achei interessante no treino de hoje e vou colocar aqui para que fiquem registradas. Também escutei uma sonoridade que gostei no exercício, os meninos usavam o rói-rói, o triângulo, chocalhos e pratos.


César: primeiro apresentou um andar meio atrapalhado, sem fixação no chão, depois fez um andar mais contido que me remeteu a um velho, e por último usou um andar com tensões isoladas no corpo criando uma figura interessante e com outro registro corporal. Durante a narração, apresentou o atirador de facas, que se treme o tempo todo.


Renata: aparentou uma passista de escola de samba, às vezes marchando, chamando ou mostrando coisas as pessoas, e sempre tentando animar o público.


Marco: menino serelepe, agitadinho, conquistador, bicha fofoqueira, tímido, uma mistura disso tudo. Apresentou a repetição de trejeitos na personagem.


Camille: puxando de uma perna e enrolando algo nas mãos, isso me remeteu a um lenço que ela poderia estar enrolando e brincando com o andamento da narrativa.  Trouxe também uma idéia interessante de uma cigana.


Durante a conversa, falamos sobre a criação das figuras que surgiram, e que a construção corporal tem acontecido através de junções de vários exercícios que do decorrer do processo, algumas vezes conscientemente e outras vezes não. Exemplo disso foi a junção que Marco fez do menino serelepe (do encontro com Adê), da partitura corporal do exercício com Helder, da bicha fofoqueira, (essa eu não sei de onde surgiu) e do bicho conquistador que vi quando ele queria se aproximar de alguém para contar a história meio que chamando as pessoas com as mãos (também do encontro com Adê).


E durante esse fim de semana não teremos trabalho na sede e nem Barracantes, por causa do espetáculo da Adê, A-MA-LA, amanhã e domingo, na Casa da Ribeira, que estamos produzindo em parceria com o Carmin e o Ronaldo, mas segunda-feira continua...

Eu e o Mar

A cidade ainda dormia quando o despertador tocou às sete da madrugada. Ok. Pelo menos Renata, Rafael (que chegou ontem pra trabalhar conosco e está aqui em casa) e Fernando, isso eu posso garantir. Não tive dificuldades em desgrudar da cama. Isso já é um bom começo. Porque tão cedo? Tinha um encontro marcado. Só eu e o Mar. Resolvi atender o conselho, pra não dizer ordem, da bruxa boa e linda, a querida amiga e mestra Adelvane. A mesma que me apresentou, além do mundo do nariz vermelho, o verde da salada, há quase nove anos atrás. É...o tempo passa. Parece que só não para ela, que está cada vez mais jovem e radiante. Bom, isso tudo porque fiquei devendo a ela (e principalmente a mim mesmo) uma imagem da minha pessoa, essa que vos escreve, alguns quilos a menos. Tem sido difícil. Mas sou brasileiro e não desisto nunca (leia "teimoso").
Rumei até Ponta Negra. O lado bom de ainda ser cedo é que encontra-se mais facilmente um lugar pra estacionar o carro. Parei em frente ao Fellini. Uma parada inspiradora, apesar de uma experiência ruim com o dono desse estabelecimento no passado. Deixemos pra lá. Salve, salve o mestre Fellini!! Ele não tem culpa nisso. Oito horas em ponto quando pisei na areia. E lá estava ele, grandioso, imponente e simplesmente calmo. Desde que começamos esse processo, que eu me lembre, essa foi a primeira vez que visito o Mar, assim tão de perto. Que pecado...Mas, lá estava eu. A praia aos poucos começava a sua rotina mercantilista. Ao longe, bem longe, ouvi um som de pífano tocando Gonzagão e o seu hino nordestino: Asa Branca. Era apenas um desses carrinhos de ambulantes que circulam tranquilamente vendendo seus piratas. Há quem diga que lugar de pirata é na praia...então tá. Nada mais óbvio. Temos discutido dentre tantas coisas nesse momento que afunila-se, fechando ideias, escolhas e caminhos o quanto se espera de um grupo nordestino que tratará de um tema tão recorrentemente nordestinista. Será isso? Asa Branca, com direito a ausência de um bemol na escala, ou melhor, tocado errado, chapéus de couro ou de palha como preferirem, e um sotaquezinho baiano-nordestinês-universal-global-novela-das-oito? O turista que vem pra cá, que estava lá, na praia como eu estava, realmente quer de nós isso, ou nós só damos isso porque eles querem isso? Caminhemos.
É impressionante como a praia é um lugar democrático. Pretos, brancos, amarelos por natureza, ou assim como eu, homens, mulheres, crianças, cachorros, bicicletas, magros, gordos, ou assim como eu (rsrs), todos de alguma maneira expostos ao sol, recebendo a energia desse lugar incrível ou largando ali suas mazelas e pensamentos, assim como eu. E o mar? Ele simplesmente está ali. Ele é. Lembrei-me de Lima, sendo, estando assim. Caminhando no sentido centro e a favor do vento, vi a minha esquerda um bar (ou era uma pousada? já não lembro) chamado Hemingway. Estava bem acompanhado. Entre surfistas, ambulantes e gringos passei por uma criança que oferecia uma porção de areia como "sorvete molhado de chocolate" para sua mãe. Ela, claro que comeu tudo. Pude ver quando passei de volta por ali e nada mais sobrava. O mar com suas ondas tapa os buracos, derruba castelos, lambe a areia e realinha o chão constantemente para novos pés, de cinco ou até mesmo de quatro dedos, assim como eu. Outra coisa que me chamou atenção foi a quantidade de senhoras tatuadas e com piercings no umbigo a prostarem-se ao sol. Lembrei-me de vovó. Minha pura, quase uma folha em branco, vozinha.
Lutando agora contra o vento, fiz o caminho de volta me prolongando um pouco mais, indo em direção aos pés do nosso pelado e "desareiado" cartão-postal, Morro do Careca. Democrática sim e completamente segregada a negra ponta da Ponta Negra. Não sobra uma branca vela das jangadas que descansam sobre a areia. As propagandas tomaram conta de tudo. E de perto, bem perto ouvi ali uma outra música que banha as ondas das rádios da minha cidade Natal. Onde o povo, democraticamente, sem destinção de raça, idade ou zona (norte ou sul), em suas carroças ou Pajeros, unem-se culturalmente fortes cantando a uma só voz: "VOCÊ NÃO VALE NADA MAS EU GOSTO DE VOCÊ..." Taí! Um hino pra Natal! Era hora de voltar. Começava a feira da Babel à beira-mar. Essa praia que eu vi, certamente não foi a mesma que viu Marinho.
Mas eu voltarei. Porque o Mar assiste a tudo tranquilamente.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Jucurutu

Nessa quinta, contamos com a presença do dramaturgo desse processo, Rafinha, que ficará conosco até a próxima semana. Fernando o situou um pouco sobre o que vem acontecendo no barracão e eu também falei sobre o exercício que Marco iria fazer hoje.

Marco retomou o exercício “momentos do capitão”. Ele espalhou instrumentos pela sala e passou instruções sobre o exercício para os meninos, pois como ele também é um jogador/ator, é importante que ele se sinta mais a vontade para experimentar e deixe mais de lado seu papel de condutor.

Os meninos foram percebendo o espaço e os instrumentos. Fê pediu que os atores trouxessem a corporeidade que cada instrumento oferecia e depois que o som do instrumento (mentalmente) sugerisse o movimento do corpo. Daí quando eles acharam um padrão interessante de movimentos, estabeleceram contato visual e dialogaram entre si.

Achei interessante perceber como o estímulo do som do instrumento e do formato do objeto trazem movimentos que às vezes se contrapõem e coincidem. Os meninos revisitaram alguns movimentos corporais, mas também conseguiram trazer movimentos que além de não ser cotidianos, traziam uma mudança no eixo do corpo que eu nem sempre tinha visto neles durante exercícios anteriores.

Depois que os meninos estabeleceram a relação, Fernando disse os 7 momentos do livro, um de cada vez e de modo aleatório, e os meninos narraram a história do Capitão. Eu, Fê, Gabi e Rafa, sentamos nos quatro cantos do tablado para assistir ao improviso.

César tem muita facilidade - ao meu ver - de contar a história com fluidez de palavras, trazendo muitas vezes estímulos bons para a criação da dramaturgia e a criação corporal não apenas dele, mas dos outros também, como a palavra que disse durante o jogo, “autista”, que mesmo não sendo uma boa palavra para a história que se quer contar, trouxe um estímulo muito criativo para os outros atores que estavam em cena.

Camille, durante o encontro da Adê experimentou ser uma “rapariga” que muitas vezes oscilou entre a menina e a mulher demonstrando insegurança, no entanto hoje ela trouxe durante a sua utilização do instrumento rói-rói uma maior ousadia, e eu acho que é por aí mesmo, pois mesmo que ela não se utilize disso na peça, é importante para o ator ampliar o seu repertório. Ela também explorou contar a história se arrastando no chão, e para mim foi bom ver uma outra maneira de usar o espaço, mesmo que isso induza a uma personificação do narrador.

No instante da narração da parte “Encontrando pares”, surgiu uma música bem interessante, com Marco na sanfona e os meninos dizendo expressões como: ali, aqui, olá. Também durante a narração de César, os meninos fizeram uma imagem bonita cenicamente, um de costas para o outro apontando, indicando algo.

Além disso, durante a narração de Marco, surgiram figuras bizarras da trupe “Meninos-Cactos de Jucurutu”: Rê, como uma mulher fruto de pescador e sereia, a mulher que nunca amou, Camille, como as gêmeas siamesas , a menina-cavalo marinho e César, como o homem chocalho.
César, na sua contação sobre a trupe, falou sobre as figuras, sobre elas serem bonitas e por isso serem solitárias... que elas se encontraram e depois que olharam no olho uma das outras, não quiseram se separar mais, pois encontraram a própria alma (Bom, pelo visto acho que ele já andou lendo Paulo Coelho. Rsrsr.... Brincadeirinha, César).

Depois de muito jogo, Fê falou pros meninos que tudo aquilo foi mais um número da trupe, e que eles teriam reunião administrativa. Eles se sentaram, tentaram alguns improvisos, mas não tiveram muito rendimento. Depois, Camille deu a notícia que Marinho foi embora e não viria para a reunião. Os meninos não acreditaram. César ainda brincou com Rê, cantando a música: Fui passear no bosque enquanto Marinho não vem... Em seguida chegou um telegrama de Marinho dizendo: fui embora. A partir daí, os meninos ficaram sem saber o que fazer, calados, sem chão. E Camille “perturbou” para que eles fizessem alguma coisa, pois pouco depois teria espetáculo. Marco chegou a tapar a boca dela para que ficasse calada. Depois disso, sem muita reação por parte dos meninos, o público (eu, Fê, Rafa e Gabi) começou a gritar e bater palma para que o espetáculo comecasse.

Eles pensaram em não apresentar, porque Marinho não estava presente, mas depois decidiram fazer alguma coisa, e apresentaram a história da Tempestade pois, segundo César, Shakespeare sempre funciona. Rsrs...

Na realidade, eles fizeram uma recriação shakespeariana bem livre. A história que eles contaram foi mais ou menos a seguinte: Próspero, que possuía poderes mágicos, tinha uma filha chamada Miranda. Numa viagem de navio, aconteceu uma tempestade e eles ficaram presos em uma ilha. Surge Ariel, e avista um navio próximo a ilha. Ariel consegue enxergar a tripulação de três homens, e ainda as suas idades e escolhas sexuais. Próspero então reconhece que os três homens são seus parentes, e que todos precisam morrer, pois fizeram alguma coisa de ruim com ele... Daí Próspero pergunta a sua filha maquiavélica uma idéia para “fuder com os cara”, mas esta não tem nenhuma, e seu pai reclama de ela ser uma “brochante”, e ela fala que não é o que as pessoas dizem. Assim, Ariel é a salvação! Ele joga uma bomba no navio e este vai se desfazendo, depois não sei como o navio ressurgiu pois eles o puxam com uma corda.... Foi quase isso, não lembro como terminou a história. Nesse meio tempo eles tentaram cantar para animar o público, que dormia e reclamava.

Quando terminou o exercício sentamos no chão e conversamos, pois em geral sempre surgem novidades boas e outras coisas que são necessárias reforçar ou mesmo conversar novamente para que não se percam. Fê falou sobre a importância de jogar a favor do improviso, dos meninos agirem positivamente. Falamos sobre a narração não ter juízo de valor, embora o grupo tenha seu ponto de vista, da relação que o grupo tem com o treinamento pré-expressivo, entre muitas outras coisas.

Hoje também lemos mais um pouco do blog! Ah! Só mais uma coisinha, pois já escrevi demais e sei que vai ser difícil alguém ler até o final.... César alguns dias atrás citou uma frase de Peter Brook durante uma de nossas conversas, eu não lembro bem como ele disse, mas era algo do tipo, o teatro se faz com inteligência, sentimento e corpo. Então façamos!

São muitas emoções...

Apesar do avançar da hora e do cansaço e sono que me dominam, não posso deixar de postar antes de dormir, diante da jornada tão especial que tivemos hoje (na realidade, ontem, quarta). Recebemos a visita da Adelvane, nossa mãe-clown, mestra tão importante na nossa trajetória, que está em Natal ministrando oficinas no Barracão e vai apresentar seu espetáculo A-MA-LA, neste fim-de-semana, e que veio trabalhar um pouco conosco em cima do universo do Capitão.

Pouco sabendo do processo, a não ser a leitura do livro do André que fez logo antes, a Adê trouxe um pouco do que vem trabalhando, e esse encontro serviu, em primeiro lugar, para nos reaproximarmos, depois de tantos anos de contatos tão atravessados e desencontrados.

E foi forte demais! Potente! Costas pro chão! Bola de borracha! Joga fora a energia cansada! Dinamizando, dinamizando! Comandos tão familiares, tão saudosos. Passada a sequência pré-expressiva, ela conduziu um trabalho de improvisação em cima da ideia da trupe. Um tanto direcionada por ela, um tanto naturalmente desenvolvido pelos meninos, a coisa acabou caindo pra uma trupe de figuras bizarras, como um aleijado, um travesti, uma velha com um garfo na mão, em resumo, um freak show. Muito bonito ver a Adê conduzindo o trabalho, interagindo com os meninos, tomando (e dando) cuspida, tapa, puxão de cabelo, enfim, entrou na atmosfera proposta pelos meninos e provocou ao extremo para extrair o que pôde deles.

Além das cenas que os meninos elaboraram em seguida - com um grau de aproveitamento, síntese e manutenção da essência da improvisação impressionantes! - e do excelente papo que tivemos depois, que apontou muitos caminhos coletivos e pessoais a serem seguidos, o que ficou de mais precioso foi ter a Adê de volta no nosso trabalho, figura tão querida e revolucionária na nossa história.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Abigobel é um pastor alemão

Nossa querida Adelvane conduziu o trabalho de hoje no barracão. Para começar o grupo fez a saudação ao sol que é uma sequência de movimentos do ioga. Fizemos também a postura da árvore e um exercício de prender a respiração e soltar. Tudo muito calmo diante do furacão que estava por vir.


Segundo Adelvane, a ioga proporciona concentração, equilíbrio, baixa a ansiedade, entre outras coisas. Eu concordo com ela, ao menos com relação a esse exercício, pois fiz essa sequência durante toda a oficina dela de iniciação ao clown na semana passada, e me sentia alongada, aquecida, concentrada e tranquila para o desenrolar da oficina.


Depois do ioga, os meninos deitaram no chão e iniciaram o treinamento pré-expressivo. Aos poucos a energia foi surgindo e Adê fazendo os comandos de acordo com o jogo entre eles. Ela pegou alguns instrumentos para que fossem um estímulo para a mudança corporal dos meninos. A princípio pareciam todos bichos, animais, ela começou a maltratar todos, puxando cabelo, batendo, Marco foi logo para o chão e ficou soltando uns sons de lamentação, daí todos maltrataram ele, e aos poucos ele foi reagindo, batendo quando conseguia nos outros. Empurraram comida na boca dele para que ele tocasse a sanfona, sujaram todo o chão, se bateram... Marco chegou a cuspir em Adê que também revidou. Cuspiu no chão. Uma nojeira só, mas que deu um novo estímulo para que o jogo crescesse.


Adê pegou alguns figurinos e foi vestindo em cada um, assim foram surgindo algumas figuras bem grotescas que se relacionavam entre si. Ainda no jogo e cada qual com uma exploração corporal diferente, criaram algumas figuras que a Adê ia direcionando. Inclusive a Adê havia pedido que Rê fosse a mãe do garotinho que Marco fazia, mas a Rê, ao que me parece não entendeu e se comportou como uma amiguinha dele, sendo que Marco havia entendido o comando da Adê e se comportou como se Rê fosse a mãe.


Algumas figuras criadas: Marco aleijado e menino serelepe, César velho e travesti, Renata velha do garfo e garotinha, Camille madame e rapariga. Ah! No meio do jogo o garotinho escutou o carrinho de picóle (de verdade) que passava na rua, ele gritou que queria um e a travesti correu levantou o portão e chamou o picoleiro, que mesmo vendo todas aqueles figuras estranhas, fantasiadas, não demonstrou nenhum preconceito, nem estranhamento, vendeu como se as figuras fossem pessoas comuns.


Fim de picolés, os meninos fizeram uma roda e cada um cantou um trecho de uma música, depois a Adê pediu que eles guardassem o trabalho e em seguida Fê falou para os meninos criarem duas cenas a partir do material criado. E enquanto os meninos se preparavam, quem estava de fora foi varrer e passar o pano no tablado que estava um reboliço só.


Bem, na primeira cena os meninos entraram como uma trupe cantando, tocando e cada um deles apresentou um componente enquanto os outros ficavam congelados. Abigobel cospidor de fogo e nojeiras, Velha do garfo lançadora de garfos que havia sofrido abuso quando criança durante as refeições, Teobaldo de codinome Brigite, engolidora de varas, Pirlinpimpim bailarina do circo, equilisbrista que não sabia sua origem. Os meninos refizeram de novo a cena a pedido de Fê, dessa vez com mais energia enquanto estavam congelados e explorando as vozes das personagens.


Na segunda cena, os meninos também entraram como uma trupe, Marco tocando a sanfona, os meninos foram aumentando a farra entre eles, até que o som do mar (tocado por Adê) foi aparecendo e eles ficaram enjoados - chegou ao ponto de a Rê vômitar de verdade em cena - e depois o som foi sumindo e eles voltando a cantar.


Após as duas cenas tivemos uma conversa sobre o trabalho. Comentou-se que hoje os meninos conseguiram trazer para as cenas o que havia sido criado sem perder a energia do exercício; que Camille oscilava entre a menina e a mulher (rapariga), que a construçao da velha do garfo (Rê) não era uma velha estereotipada e isso era bom, que Abigobel era um pastor alemão pois comia apenas uma vez por dia, e por fim, Adê fez alguns pedidos aos meninos, para se cuidarem fisicamente, para não terem dúvidas, para um potencializar o outro, para se jogarem também na busca individual e para manterem os laços de trabalho com ela.

Narrativa

Os meninos retomaram hoje o exercício de ler e esmiuçar duas páginas do livro do Capitão e, em duplas fizeram anotações, observações e criaram títulos para os fichamentos, que depois eles postarão no blog, a pedido de Yama.

As observações foram feitas em cima das páginas 12 e 13. O título que César e Rê criaram foi “Firmando-se na profissão”, e Marco e Tili “Uma cidade se faz com pedras e corações”. Depois de apresentadas as observações pelas duplas, Yama fez um levantamento de algumas questões que para ele o texto de André deixa em aberto, possibilitando que o grupo crie suas significações e imagine fatos que não estão ali descritos a fundo.

Ainda dentro da conversa, Yama solicitou um workshop extra para os meninos e meninas. Elas deverão entrevistar uma figura que está sempre no aeroporto de Natal, que se veste como um tripulante e é tão familiar ao ambiente que às vezes passa despercebido pelas pessoas que transitam. Eles deverão ler um livro do Paulo Coelho. Fê sugeriu o Diário de um Mago e pediu que eles fizessem uma leitura sem um olhar preconceituoso e que a partir disso criassem uma cena defendendo o ponto de vista do autor.

Após a conversa, os meninos partiram para o exercício "das 2 cadeiras", assim denominado por Fernando. A partir da leitura das páginas 12 e 13 as duplas criaram uma cena, procurando dar foco ao texto, à narrativa, buscando uma precisão na narração sem deixar as soluções cênicas sobrepujarem à comunicação.

A primeira cena apresentada foi de Rê e César. Ele caminhava pela rua com uma trouxa na mão, desempregado, e Rê aparecia como mulher-sanduíche anunciando vagas de emprego. O empregador era Marinho, e estava a procura de bons artistas pelo sertão. A segunda cena foi de Tili e Marco. Ele ficou sentado em uma cadeira narrando o texto do livro, enquanto Camille, em silêncio, fazia algumas ações que remetiam ao que estava sendo dito, utilizando chapéus, giz e corpo.

Conversamos sobre as duas cenas, e com relação à primeira, algumas observações foram feitas, tais como os meninos buscarem mais envolvimento entre aqueles dois personagens, a idéia que foi proposta é bem interessante, mas a execução podia ter sido melhor e, a partir disso Fê sugeriu uma possibilidade de dialetização da cena, que seria o uso diferenciado do que era lido (enquanto a placa não estava visível à plateia) e ao que estava realmente escrito: enquanto aquele desempregado miserável lia uma excelente oportunidade de emprego, na verdade o que estava escrito (e o público leria ao final da cena) era uma oportunidade de emprego muito ruim, mas que ainda assim parecia excelente ao indigente. Sobre a segunda, houveram momentos em que a ação de Camille se sobrepunha ao que estava sendo narrado por Marco, e foi sugerido que se criasse uma dinâmica/edição mais precisa para que isso não acontecesse.

Bem, depois da “avaliação” partimos para a leitura do blog, deu tempo de ler um texto de Marco e outro de Rê, e depois comentar um pouco entre nós.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Organizando

O contact improvisation hoje aconteceu na UFRN em uma sala do departamento de artes. Os meninos experimentaram sensações diferentes de movimentações circulares e que perfuram no espaço, para Sávio essas duas formas se complementam.

Em duplas, andaram pelo espaço mantendo o contato de superfície apenas pelas mãos e, aos poucos, foram deixando que todo o corpo se envolvesse. Depois da experimentação, Sávio pediu que eles, ainda em duplas, se deslocassem no espaço, com movimentações circulares, saindo do eixo, tendo em mente uma dança, um “valsar”. Eles começaram sozinhos, dançando, e aos poucos foram encontrando seus pares.

No exercício seguinte, eles desceram ao chão e subiram, mantendo o contato com o corpo do outro, tentando manter o equilíbrio e utilizar a frente e as costas do corpo. Depois ficaram de costas um para o outro, e uma pessoa subia nas costas do outro e buscava virar de frente. No último exercício em duplas eles levantavam um ao outro para que a pessoa ficasse com a lombar em cima do ombro.

Após essas experimentações, o grupo de C.I. foi para o momento de improviso. Eles se espalharam pela sala, e aos poucos duas duplas foram iniciando a jam e depois mais duas com música instrumental ao fundo. No final, como esses meninos adoram uma palhaçada, todos foram para cima da última dupla.

Terminado esse momento, conversamos sobre os exercícios de hoje. Algumas coisas foram ditas que acho interessante citar abaixo:

* Quando o contato superfície inicia bem já vale por toda a improvisação.

* Existem diferentes caminhos para fazer o C.I, e isso proporciona fazeres diferenciados.

* Hoje a utilização da música criou apenas uma atmosfera e não interferiu na improvisação das duplas, pois o maior estímulo era o ritmo do outro.

* A música, os objetos e mesmo a construção narrativa podem ser estímulos.

Terminado o C.I. rumamos para a sede, e Tilis trouxe uma sobremesa deliciosa para comemorar os aniversários do mês. Pablo chegou atrasado, mas foi! Legal ver você, Balu! Marco também foi mostrar aos meninos os seus novos brinquedinhos, e eles batucaram um pouquinho.

Seguindo, os meninos iniciaram uma reunião em que Fernando sugeriu uma programação para o andamento do processo do Capitão. Eles irão reler o blog aos poucos, fazer anotações e fichamentos dos exercícios que foram levantados até agora e preparar uma maratona de apresentações, também irão tentar criar de 2 a 4 roteiros sem a preocupação de acabamento. A partir disso, eles criarão um esboço cênico, para depois tentar amarrar as coisas para o espetáculo.

E por último, com Rafael Teles presente, eles conversaram sobre os andamentos da produção do Capitão entre outras coisas, e cada um foi resolver suas questões: o César, Fê e Renata para o escritório, junto com Arlindo, para ver as coisas de produção de São Paulo, enquanto eu, Marco e Tilis ficamos dando uma geral na sede, organizando o espaço dos instrumentos, arrumando o “buraco negro” (quarto ao lado do escritório que, desde o início do processo, só vem acumulando coisas jogadas uma por cima das outras), e terminamos o trabalho de forma bem produtiva.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Valsas e aniversários

O contact improvisation hoje aconteceu na UFRN em uma sala do departamento de artes. Os meninos experimentaram sensações diferentes de movimentações circulares e que perfuram no espaço, para Sávio essas duas formas se complementam.


Em duplas, andaram pelo espaço mantendo o contato de superfície apenas pelas mãos e, aos poucos, foram deixando que todo o corpo se envolvesse. Depois da experimentação, Sávio pediu que eles, ainda em duplas, se deslocassem no espaço, com movimentações circulares, saindo do eixo, tendo em mente uma dança, um “valsar”. Eles começaram sozinhos, dançando, e aos poucos foram encontrando seus pares.


No exercício seguinte, eles desceram ao chão e subiram, mantendo o contato com o corpo do outro, tentando manter o equilíbrio e utilizar a frente e as costas do corpo. Depois ficaram de costas um para o outro, e uma pessoa subia nas costas do outro e buscava virar de frente. No último exercício em duplas eles levantavam um ao outro para que a pessoa ficasse com a lombar em cima do ombro.


Após essas experimentações, o grupo de C.I. foi para o momento de improviso. Eles se espalharam pela sala, e aos poucos duas duplas foram iniciando a jam e depois mais duas com música instrumental ao fundo. No final, como esses meninos adoram uma palhaçada, todos foram para cima da última dupla.  


Terminado esse momento, conversamos sobre os exercícios de hoje. Algumas coisas foram ditas que acho interessante citar abaixo:


* Quando o contato superfície inicia bem já vale por toda a improvisação.

* Existem diferentes caminhos para fazer o C.I, e isso proporciona fazeres diferenciados.

* Hoje a utilização da música criou apenas uma atmosfera e não interferiu na improvisação das duplas, pois o maior estímulo era o ritmo do outro.

* A música, os objetos e mesmo a construção narrativa podem ser estímulos.


Terminado o C.I. rumamos para a sede, e Tilis trouxe uma sobremesa deliciosa para comemorar os aniversários do mês. Pablo chegou atrasado, mas foi! Legal ver você, Balu! Marco também foi mostrar aos meninos os seus novos brinquedinhos, e eles batucaram um pouquinho.


Seguindo, os meninos iniciaram uma reunião em que Fernando sugeriu uma programação para o andamento do processo do Capitão. Eles irão reler o blog aos poucos, fazer anotações e fichamentos dos exercícios que foram levantados até agora e preparar uma maratona de apresentações, também irão tentar criar de 2 a 4 roteiros sem a preocupação de acabamento. A partir disso, eles criarão um esboço cênico, para depois tentar amarrar as coisas para o espetáculo.


E por último, com Rafael Teles presente, eles conversaram sobre os andamentos da produção do Capitão entre outras coisas, e cada um foi resolver suas questões: o César, Fê e Renata para o escritório, junto com Arlindo, para ver as coisas de produção de São Paulo, enquanto eu, Marco e Tilis ficamos dando uma geral na sede, organizando o espaço dos instrumentos, arrumando o “buraco negro” (quarto ao lado do escritório que, desde o início do processo, só vem acumulando coisas jogadas uma por cima das outras), e terminamos o trabalho de forma bem produtiva.

domingo, 26 de julho de 2009

Em Garanhuns

No Barracantes de ontem tivemos apresentações de números de palhaços, com o grupo Tropa Trupe, Adelvane Néia e o Circo Grock (Nil e Gena), pois Fê e Marco tiveram que ir para o Festival de Inverno de Garanhuns para fazer uma apresentação do Fábulas.

Eu não estive presente ao Barracantes, pois fui com Fê para Garanhuns. A apresentação do Fábulas lá foi legal e teve bastante público. Depois da apresentação encontramos Vivi e Tine (que estavam no festival e assistiram a peça) fomos dar uma volta pela praça.

Vimos uma feira de artesanato, e Marco encontrou um stand do Abílio, luthier de Recife que fez praticamente todos os instrumentos que o grupo tem, e acabou comprando novos brinquedinhos para o grupo. Um gongo, uma queixada, um mineiro e uma caixa pequena, esta última uma paixão à primeira vista.

Na volta para Natal, eu, Marco e Fê (que dirigia o carro) conversamos sobre o processo do Capitão e os próximos passos a serem traçados.

Ah, lá em Garanhuns eu recebi uma reclamação de Marco por não estar com os relatórios em dia, e em minha defesa disse que essa semana que passou foi bem corrida para mim (oficina da Adelvane, contusão no tornozelo, Latão em Natal, etc.). Bom, o fato é que estou mesmo atrasada com os relatórios e vou, no decorrer dessa semana, colocá-los em dia, nas suas respectivas datas.